sexta-feira, 19 de setembro de 2008



19 de setembro de 2008
N° 15731 - RICARDO SILVESTRIN


Revanguarda

Quando cheguei, com o poeta Nicolas Behr, ao terceiro andar da Biblioteca Nacional em Brasília, Ziraldo me disse: “Veio ver a exposição do Reynaldo Jardim?”.

Estávamos indo buscar a poeta Alice Ruiz para um recital que iríamos fazer no bar Martinica. Ziraldo então me apresentou ao poeta que era o homenageado da Bienal Internacional de Poesia. Na saída, disse-me que se tratava de uma das pessoas mais criativas do Brasil hoje.

No dia seguinte, fui, em companhia do próprio Reynaldo e de um grupo de poetas amigos, ver seus trabalhos. O prédio já estava fechado, mas dissemos aos guardas que o dono da exposição queria vê-la. Reynaldo Jardim tem 82 anos.

O nome da sua mostra já injeta um gás novo e provocador: Revanguarda, Poesia Além do Poema. Nas paredes, uma seqüência de desenhos feitos por ele e versos esparsos. Ao final, o poema inteiro recomposto. Uma manequim nua e uma caneta para que as pessoas a tatuassem com poemas.

Vimos o vídeo com imagens dele, de seus trabalhos gráficos, pinturas e várias poesias. Um poema sobre o beijo.

Outro dialogando com a música Se eu quiser falar com Deus, do Gil: “Eu só vou falar com Deus/ (...)quando ele descer do céu/ e ver que cada menino/ sem presente, sem destino/ precisa de um beijo seu”. Mais tarde, fomos a um jantar na casa do poeta Luis Tuirba.

Depois da bóia, Turiba levou todos para a sala e colocou um samba-enredo que tinha composto quando Reynaldo fez 80 anos: “Reynaldo Jardim, jornalista, poeta, escritor/ oitenta anos dedicados à vida e ao amor/ parabéns pra você e por tudo que você criou”.

O jovem poeta octogenário levantou e começou a dançar, puxando a celebração, que foi acompanhada por todos. Fizemos uma rodada de leituras de textos dos poetas presentes.

Quando chegou a vez de Reynaldo, ele disse um poema na língua que inventou, chamada Vronsk. Era um soneto, rimado, mas todo com palavras que não existem.

Ao final, cai ao chão como se tivesse sido atingido por uma adaga. Aplausos. Ele é mais novo do que todos nós. Ziraldo, que foi embora naquele primeiro dia, tinha razão.

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