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quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Como em Las Vegas, "Obrigado por jogar..."
18 de Setembro de 2008 - Vendo algumas ações de financeiras serem exterminadas, com freqüência ouvia uma voz na minha cabeça, e é a mesma voz daqueles crupiês de Las Vegas que calmamente dizem, enquanto recolhem as fichas do jogador que perdeu no 21: "Obrigado por terem jogado, damas e cavalheiros".
É isso o que acontece quando uma bolha estoura. A pessoa se sente espoliada, e a calma com a qual os crupiês - nesse caso os mercados - recolhem todas as fichas é irritante.
É fácil reagir de forma precipitada, e é importante não reagir assim. Agora é o momento de calmamente verificar o que os mercados podem fazer melhor e o que os governos têm de fazer melhor.
Vamos entender o que ocorreu aqui. Wall Street - o setor financeiro - se tornou uma bolha nos últimos anos graças ao excesso de liquidez e à mais antiga formadora de bolhas da história: a ganância.
Algumas das pessoas mais inteligentes esqueceram uma das regras mais antigas de investimento: Não existe retorno livre de risco. Quando alguém vai longe demais para obter lucro, mais cedo ou mais tarde vai se queimar.
Nos anos 90, o retorno de alta rentabilidade e livre de risco se supunha estar nas ações das companhias ponto.com.
A versão desta década são as hipotecas subprime e as ações financeiras. Da mesma forma que as companhias ponto.com dos anos 90, as ações financeiras inflaram a níveis ridículos e os salários para os executivos de Wall Street alcançaram alturas ridículas.
Nós estamos agora vendo, ao vivo e em cores, essa bolha estourar. "Obrigado por ter jogado, Lehman Brothers". Isso é realmente triste para uma empresa de 158 anos.
O mercado está agora consolidando esse setor, com os fortes engolindo os fracos, o que vai impor sua própria disciplina fiscal. Bom.
Talvez então mais integrantes de nossa próxima geração de gênios da matemática pensarão em desenvolver o próximo grande setor global - tecnologia de energia - em vez de desenvolver derivativos.
Mas nós também temos de entender a unicidade dessa bolha para identificar onde o governo inteligente tem de intervir.
Um motivo porque essa bolha financeira ficou tão grande é agora bem conhecido: os empréstimos hipotecários subprime, ou de alto risco, permitiram que muito mais pessoas se tornassem proprietárias de imóveis residenciais - uma verdadeira benção.
A financeira ou o banco de crédito local, que prorrogou esses empréstimos hipotecários, mais tarde os revendeu para um agregador que os empacotou com milhares de outras hipotecas subprime.
Então esses pacotes de empréstimos foram fatiados e vendidos em pequenas fatias como títulos corporativos para todos os tipos de instituições, que estavam procurando ativos que gerassem retornos extras. Os pagamentos dos empréstimos hipotecários subprime foram usados para pagar os juros sobre esses títulos.
Mas quando o mercado imobiliário entrou em colapso, as pessoas não puderam cobrir suas hipotecas ou vender suas casas, os títulos perderam valor e, por conseqüência, os bancos que os detinham perderam capital, e toda a pirâmide começou a ruir.
Isso infectou todo o mercado imobiliário, de forma que os bancos não sabiam mais qual era o valor de seus ativos lastreados por hipotecas. O resultado? Eles pararam de emprestar. Daí vem a presente restrição de crédito.
Essa restrição de crédito é o que torna a crise tão letal. Nós não podemos tolerar uma situação prolongada na qual os bancos não concedem empréstimos para as empresas que desfrutam de boa situação.
A crise dos anos 1980
É por isso que o Congresso tem de criar outra Resolution Trust Corp. (RTC) como a que surgiu com a crise de poupança e empréstimo dos anos 80.
Como naquela época, necessitamos de uma agência governamental que tire as hipotecas tóxicas dos balanços dos bancos, e as mantenha e as venda de forma ordenada posteriormente. Isso pode impedir a venda de liquidação de residências e hipotecas agora e restaurar a confiança para os bancos para que eles possam voltar a conceder empréstimos.
No longo prazo, no entanto, os reguladores têm de encontrar meios para limitar a quantidade de capital emprestado que os bancos de investimento ou as seguradoras podem tomar de uma única vez, porque dado o quanto eles todos estão interligados na economia global de hoje, um banco que quebra pode derrubar muitos outros.
"Estamos no fim de uma era - o fim do ‘deixe isso com os mercados’ e da grande desculpa de que menos governo é sempre melhor governo", argumenta David Rothkopf, ex-alto funcionário do Departamento do Comércio no governo Clinton e autor de um livro sobre os líderes financeiros do mundo que geraram essa crise:
"Superclass: The Global Power Elite and the World They Are Making". "Acredito, contudo, ser importante ressaltar a diferença entre governo inteligente e simplesmente mais presença do governo.
"Não necessitamos de mais regras em Wall Street", ele acrescentou. "Temos de rever como deixamos os mercados financeiros mais transparentes e certificamos que os riscos dentro desses mercados - muitos dos quais não são bem entendidos mesmo pelos especialistas - são adequadamente administrados e monitorados", disse Rothkopf.
Em suma, a função do governo é policiar essa linha fina entre a necessária tomada de risco que move uma economia inovadora e a jogatina maluca com as economias de outras pessoas que ameaça a todos nós.
Temos de nos certificar que o que ocorre em Las Vegas, permaneça em Las Vegas - e não vá para Main Street. Temos de voltar a investir no nosso futuro e não só apostar nele...
kicker: Algumas das pessoas mais inteligentes esqueceram uma das regras mais antigas de investimento: não existe retorno sem risco
Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 2)(Thomas L. Friedman - The New York Times
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