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sexta-feira, 26 de setembro de 2008
26 de setembro de 2008
N° 15740 - PAULO SANT’ANA
Indelicadeza
Não vou responder à grosseria da candidata Manuela D’Ávila contida em sua entrevista de ZH de ontem por dois motivos: 1) sou obrigado a seguir a regra do cavalheirismo; 2) se fosse responder à altura à indelicadeza da candidata, eu correria o risco de mudar o resultado desta eleição, falecendo-me este direito.
Não vou sair à rua com um tanque de guerra a perseguir uma espingarda.
Em tempo: a candidata Manuela telefonou-me ontem à tarde, pedindo desculpas por sua agressiva resposta a uma singela e inofensiva pergunta minha numa entrevista.
Reflito respeitosamente sobre o acidente ocorrido ontem na BR-471, colisão entre um microônibus e um caminhão, em que morreram várias pessoas e outras restaram feridas.
Aquela estrada é a maior reta rodoviária no Estado, são 220 quilômetros sem nenhuma curva.
Trata-se de um percurso por todos os títulos monótono, maçante, tedioso, que convida os motoristas a dormir no volante, principalmente à noite, quando desaparece a paisagem que distrai quem está dirigindo.
Por sinal, quando, esses dias, na ânsia policialesca que domina os nossos legisladores, noticiou-se que é intenção do Congresso proibir aos motoristas que fumem no volante, reagi imediatamente ao projeto, pregando que, ao contrário do que se pensa, todos os motoristas têm de se distrair no volante.
Querem proibir os motoristas de fumar no volante sob a alegação de que o cigarro distrai quem está dirigindo o veículo.
Mas como? É imperativo que esteja distraído o motorista. Quanto mais distraído ele está, pelo cigarro, pelo rádio ou pela conversa com os outros passageiros ou tripulantes, melhor ele estará preparado para reagir aos incidentes, sem ter seus reflexos estagnados.
O cartaz mais idiota que conheço em matéria de prevenção de acidentes de trânsito é aquele afixado nos ônibus: “Não converse com o motorista”. Isto é de uma burrice total.
Isto é de abandonar o motorista a uma solidão que o levará ao sono ou à letargia.
Deveria, ao contrário, haver cartazes que dissessem: “Puxe conversa com o motorista”.
Cartaz assim devia existir: “De vez em quando, vá até a cabina e converse com o motorista, distraia o motorista, não deixe que ele se contagie pelo sono dominante entre os passageiros e se mantenha desperto, alerta, acordado”.
Não existe nada mais sonífero numa cabina de caminhão ou de ônibus que o silêncio.
É criminoso permitir-se que os motoristas de ônibus e caminhão viajem sozinhos.
E fazem o contrário: quando põem dois motoristas a viajar num ônibus, induzem um deles a dormir. Nada disso, tem de ficar acordado. Motorista de trajeto longo tem de estar acompanhado na cabina ou no banco da frente, tem de cantar, tem de discursar, conversar, discutir, tem de se agitar, não pode viajar em silêncio.
Ao contrário, os cartazes proíbem de conversar com o motorista: estupidez atroz.
Não existe perigo maior nas estradas do que 40 passageiros dormindo nos bancos de um ônibus e um motorista dirigindo só e incomunicável.
Nem um super-homem deixa de dormir quando há 40 pessoas dormindo atrás e em torno dele.
E tem de ser proibido, imediatamente, motorista de caminhão, em viagem à noite, dirigir sem companhia no banco da frente.
A solidão é indutora máxima de sono.
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