terça-feira, 16 de setembro de 2008



16 de setembro de 2008
N° 15728 - PAULO SANT’ANA


Liberação das drogas

Morreram 31 pessoas assassinadas em apenas três dias, sexta-feira, sábado e domingo passados, no Rio Grande do Sul.

Na Grande Porto Alegre, foram mais de 20 os assassinados.

Em Viamão, foram quatro os assassinados.

Esses dias levantei que um em cada 1.700 habitantes será assassinado em Viamão em 2008.

Com certeza, não há no mundo esta proporcionalidade, só existe em Viamão.

Não sei por que se mata em Viamão, mas coincidentemente o município não se aparelhou para receber tantas vilas, tantos arrabaldes nos últimos 25 anos.

Todas as pessoas que não conseguiram habitar Porto Alegre nas últimas décadas foram arrastadas pelos preços módicos dos terrenos para Viamão. E decidiram se instalar lá, começaram a morar modestamente, depois, de puxado em puxado, foram melhorando as suas moradias.

Mas o poder público não acompanhou essa migração colossal para Viamão e deixou essa gente abandonada lá.

No caso da saúde, os que se instalaram em Viamão valem-se dos hospitais de Porto Alegre.

Mas, no caso da segurança pública, é impossível alguém morar em Viamão e vir pedir socorro em Porto Alegre. Tem de ser atendido por lá mesmo.

E o Estado não se aparelhou para o grande crescimento de Viamão, daí o déficit nos serviços públicos, que desaba obrigatoriamente sobre a prefeitura.

Quero dizer de antemão que Viamão é uma cidade aprazível, que é uma colmeia de trabalho e de repouso, antes que me venham de lá mensagens retificativas que salientam o lado bom do município, com o qual me congratulo.

E deve ser por isso mesmo que gostaria de ver melhorada a situação da segurança pública em Viamão.

Se melhorada, Viamão vira um paraíso.

Espalhou-se ontem a estatística de que morreu assassinado no RS em apenas três dias o mesmo número de pessoas que tombou na miniguerra civil atual da Bolívia.

Um sociólogo local disse ontem na Rádio Gaúcha que grande parte desse hediondo índice de assassinatos no RS se deve ao tráfico de drogas.

São acertos de conta. Imagino que seja uma delimitação de território dos traficantes e também um controle regulatório do mercado de drogas, através das execuções.

Esses bandos que levam a efeito essas execuções não estão à margem da lei, estão acima da lei.

Eles têm um poder que nem o próprio Estado teve a coragem de arrogar-se: investigam, julgam e matam. O Estado, como se sabe, não tem poder de matar através da pena de morte.

Eu fico imaginando que esse delírio de poder dos matadores chega ao ponto de eles equipararem-se a Deus, que se supõe, se diz e se conclui ser o único ente capaz de marcar data para tirar a vida de alguém.

Pois eles decidem durante o dia que vão eliminar uma, duas, três, sete pessoas e durante a noite vão lá na calada e exterminam seus desafetos ou concorrentes.

Em face desse genocídio que o tráfico de drogas provoca em todo o Brasil, é que alguns estudiosos e cientistas legais se aventuram a afirmar que, fosse liberado o comércio e consumo de drogas,

o aumento do uso dos produtos estupefacientes seria compensado socialmente pelo fim das execuções e dos outros todos crimes derivados do tráfico de entorpecentes, mormente os assaltos.

Eu, às vezes, desconfio que seria menos ruinosa para a sociedade brasileira a liberação do comércio e uso das drogas do que este holocausto de assustadora e imparável desordem criminal pelo qual estamos dominados.

Até mesmo porque, com a droga proibida e criminalizada, são milhões os que a consomem. E a vida dos assassinados não tinha de ser preservada?

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