quarta-feira, 17 de setembro de 2008



17 de setembro de 2008
N° 15729 - PAULO SANT’ANA


O séquito da Praia de Belas

Esta história é verdadeira e me foi contada por um dos seus personagens principais. Apenas os nomes são fictícios, por óbvios motivos.

Há muito tempo que Andrea, a esposa, desconfiava de seu marido. Ou melhor, acreditava que ele tinha uma amante, tais eram os indícios que notava no horário de sua chegada, na frieza fatigada com que se jogava sobre os lençóis. Na sua voz irritada sempre que se dirigia a ela.

Passou a segui-lo, com a finalidade de flagrá-lo no adultério. Até que recebeu um telefonema de uma de suas espiãs: Eurico, o esposo, estava jantando naquele momento no Restaurante Vinha D’Alho.

Andrea ajeitou depressa os cabelos, botou o primeiro modelito que avistou no armário, deu de mão na bolsa e já estava dando partida no seu Gol na garagem.

Chegou ao restaurante em sete minutos. Foi entrando de mansinho, quando Eurico e a namorada erguiam pela quinta vez as taças e brindavam certamente ao esplendor do seu amor clandestino.

A namorada de Eurico foi quem primeiro viu Andrea e empalideceu. Eurico ao vê-la lívida sentiu que era bronca das grossas, embora não lhe passasse pela cabeça uma tal bomba arrasa-quarteirão.

Quando ele constatou Andrea de pé junto à mesa, lembrou-se de que há anos treinara-se para este tipo de ocasião. E de supetão foi ele quem saiu falando, quase sem se deixar perceber pelos outros clientes:

– Não há como negar-te. Esta é Cíntia, minha namorada. Temos um caso há dois anos, era praticamente impossível que ele continuasse como estava sem um pesadelo destes.

Estou dando a ela o dinheiro para o táxi (alcançou uma nota de R$ 50 a Cíntia) e me disponho a retirar-me daqui contigo e ir imediatamente te dar as explicações e satisfações que mereces em nossa casa.

Andrea, talvez pela última vez, tratou de dominar a situação como sempre tentara naquele casamento de 10 anos de duração:

– Nada disso. Sem escândalo e com muita discrição (enquanto dizia isto sentou-se à mesa de dois lugares ainda vagos), chamas o garçom, pagas a conta, tua namorada vai comigo no meu carro, vou deixá-la em casa, prometo, depois de uma conversa que exijo ter com ela. Tu pegas o teu carro e vais atrás do meu carro.

Se eu não tomar o rumo da casa de tua namorada, por sinal noto que linda e jovem, será apenas por alguns instantes, os que forem necessários para um pequeno ajuste de contas que terei com ela. Depois de deixá-la em casa, tu podes vir atrás de mim até nossa casa, onde também conversaremos.

Assim foi feito, e Cíntia obedeceu cegamente a Andrea, pois Eurico sempre lhe dissera que sua esposa era furiosa.

E no estacionamento as duas entraram no Gol de Andrea, Eurico foi levando o seu Vectra atrás. Eurico, nervoso no volante, só olhava para dentro do carro de Andrea, que gesticulava e gritava veementemente, botava o dedo na cara de Cíntia e dobrava nas esquinas.

E lá seguiram pela Avenida Praia de Belas naquele séquito dramático em que sempre terminam todos os triângulos amorosos.

Crônica publicada em 17 de maio de 2000.

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