terça-feira, 23 de setembro de 2008



23 de setembro de 2008
N° 15735 - MOACYR SCLIAR


A canção e a explosão

Não por coincidência, o brutal atentado terrorista do último fim de semana(mais de 50 mortos) ocorreu no Paquistão: o país é um cenário preferencial daquilo que tem sido chamado, impropriamente, de guerra contra o terrorismo.

O terrorismo, um perigo que não pode ser minimizado, deve ser enfrentado com meios que incluem o uso da força armada quando necessário.

Mas não se trata de uma guerra, como aquela que opôs os países do Eixo ao resto do mundo. Os terroristas não são um país, os terroristas são um bando, ainda que eventualmente grande.

Não têm localização geográfica definida, não respeitam qualquer fronteira ou qualquer legislação. Mover uma guerra contra o terrorismo significa dar a este um status indevido e, a rigor, perigoso, porque gente que nada tem a ver com o assunto acaba sendo vitimizada.

Pergunta: o que fazer, então, contra o terrorismo? De novo, o Paquistão nos dá um exemplo muito significativo e muito instrutivo.

Tudo começou com uma canção que tem como título Ye Hum Naheen, Nós não somos assim, e que, gravada em conjunto por oito celebridades da música paquistanesa, de imediato tornou-se um estrondoso (este estrondo nada tem a ver com bombas) sucesso.

A letra mostra que o terrorismo não pode ser apoiado por um verdadeiro muçulmano; a partir dela surgiu a idéia de um abaixo-assinado contra o terrorismo.

Um grupo de cerca de 6 mil voluntários encarregou-se de recolhê-las por todos os meios possíveis, inclusive nas ruas e pela internet. Mais de 62 milhões de assinaturas foram colhidas; um terço da população aderiu à campanha, sobretudo nas regiões mais conflagradas, como é o caso da fronteira com o Afeganistão.

“Não somos assim” resume, numa frase, aquilo que é fundamental para combater o terrorismo: a repulsa da população à violência. Os terroristas entenderam isto e o atentado é um claro recado intimidatório. Que não funcionará. A História mostra que as canções duram mais que as explosões.

Ninguém escreveu mais sobre as crises do capitalismo do que Karl Marx. Para ele, as crises eram inerentes ao sistema e ocorreriam de forma cíclica. A derrocada do comunismo tornou Marx aparentemente ultrapassado, mas se tivesse voltado ao nosso mundo, Marx estaria rindo sozinho. Ou especulando na Bolsa.

Anos atrás, recebi de um jovem escritor do interior do Estado algumas cartas e alguns textos. Era coisa de principiante, mas dava para ver que o rapaz tinha duas coisas: talento e determinação.

Talento e determinação transformaram o menino Charles Kiefer no patrono da Feira do Livro deste ano. É mais que uma escolha, é uma lição de vida.

Nesta semana, Porto Alegre está sediando importantes eventos da área de saúde pública, o Congresso Mundial de Epidemiologia e o Congresso Brasileiro de Epidemiologia. É um reconhecimento indireto do importante papel que o RS teve e tem na saúde.

Por uma gratificante coincidência o médico Cesar Victora, professor e pesquisador da Universidade Federal de Pelotas, receberá, este ano, o prêmio Abraham Horowitz, da Organização Pan-Americana de Saúde, sediada em Washington, por seu trabalho na área da saúde.

Victora foi indicado, pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva, para presidir a Associação Internacional de Epidemiologia.

Também estão em Porto Alegre dois veteranos da saúde pública gaúcha: Clovis Tigre e Marlo Libel. O RS deve muito a eles.

Finalmente, devemos destacar o lançamento do livro As Causas Sociais das Iniqüidades em Saúde no Brasil pela editora da Fundação Oswaldo Cruz, que é um oportuno diagnóstico dos problemas sanitários brasileiros.

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