segunda-feira, 22 de setembro de 2008


Segunda-feira, 22/09/2008, DCI, Pág

Caixa vai na contramão do mercado e aumenta crédito

SÃO PAULO - Em um período turbulento, no qual o mercado prevê desaquecimento do crédito e aumento da inadimplência para o próximo ano, a Caixa Econômica Federal traça estratégia exatamente oposta: ampliar sua carteira de financiamentos aliada à diminuição da inadimplência.

Segundo o banco, é uma decisão estratégica diminuir a importância dos títulos e valores mobiliários em seu balanço e transferir essas carteiras para operações de crédito.

Na divulgação de seu desempenho do primeiro semestre de 2008, junto com a Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais São Paulo (Apimec), a Caixa Econômica mostrou um aumento de 29% em sua carteira de crédito, de R$ 44,9 bilhões para R$ 58 bilhões, e uma redução de 6,2% nos títulos mobiliários, de R$ 123 bilhões para R$ 116 bilhões.

O lucro líquido apurado pela instituição no período foi de R$ 2,5 bilhões, 53% superior ao resultado de 2007 no intervalo de tempo.

Segundo o vice-presidente de Controle e Risco do banco, Marcos Vasconcelos, o crescimento do crédito no intervalo de tempo fechou abaixo do observado pelo mercado, de 33%.

"Passamos por ajustes, em 2007, que diminuíram nossa participação. Estamos, porém, em ritmo de expansão. Se verificarmos, no período até agosto já está igual ao registrado pelo mercado", informa.

A explicação para a capacidade de ampliar a carteira de crédito está na origem do funding.

Todos os recursos de captação do banco provêm de fundos nacionais, sem necessidade de buscá-los no mercado externo e com a possibilidade de não ser tão agressivo em captações a prazo.

Isso porque além de uma caderneta de poupança que cresce a ritmos superiores aos do mercado, 23%, a instituição financeira controla recursos federais, como o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que chegou a R$ 207 bilhões em junho de 2008, 8,8% superior a 2007.

Além disso, conta com fundos que totalizam mais de R$ 200 bilhões. "Estamos crescendo obedecendo às regras prudenciais, de acordo com nosso funding e liquidez."

Apesar de não perder o foco no crédito habitacional, em que é a maior do País, com saldo de R$ 36,7 bilhões nos seis primeiros meses de 2008, 27% superior a 2007, a Caixa Econômica também busca diversificar operações de financiamento.

Em pessoa jurídica, com ampla maioria de pequenas empresas na carteira, há um esforço para buscar as médias e grandes companhias, "impulsoras do crescimento verificado", segundo o vice-presidente de Finanças, Márcio Percival.

"Há espaço para crescer bastante. Também aumentamos participação em estruturação de papéis, como fundos, débitos e notas provisórias."

Para não correr riscos com essa carteira maior, a Caixa também busca a qualidade do devedor. Apesar de não falar em números para o próximo ano, a intenção é continuar com uma diminuição progressiva da provisão de devedores duvidosos (PDD), que atualmente corresponde a 8,6% do total de empréstimos, contra 9,7% no primeiro semestre de 2007.

Além disso, os créditos concedidos com rating+./AA-C de confiabilidade aumentaram a participação de 85%, nos seis primeiros meses do ano passado, para 87%, neste ano. Para Vasconcelos, o segredo é que em vez de fazer análises de crédito mais restritivas, o banco faz análises mais apropriadas.

Ele explica que se um cliente pede determinado financiamento por determinado tempo, uma boa análise diz apenas se é viável ou não. "Preferimos ajustar para capacidade de pagamento do cliente. Talvez ele não seja qualificado para esse pedido específico, mas, para outro, sim."

Crise Imobiliária

Marcos Vasconcelos acredita que a crise internacional não irá afetar os financiamentos de longo prazo do banco. Ele lembra que a instituição foi a primeira a estender financiamentos imobiliários a até 30 anos.

"Várias instituições do mercado utilizam funding externo e podem sofrer alguma redução, porém os da Caixa estão todos no mercado interno."

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