quinta-feira, 25 de setembro de 2008


ELIANE CANTANHÊDE

Reação à altura

BRASÍLIA - O FMI previu ontem que o custo da crise financeira vai a US$ 1,3 trilhão, 30% a mais do que sua própria previsão anterior. O mar, portanto, não está para peixe, muito menos para peixe miúdo. A disputa por investimentos internacionais será devoradora.

Isso torna surpreendente a decisão do presidente do Equador, Rafael Correa, de intervir na Odebrecht, uma das principais construtoras brasileiras e do próprio país, incluindo seqüestro de bens, militarização de canteiros de obra e a proibição de que quatro funcionários da empresa saiam de lá.

Foi um rompante à la Evo Morales, que pôs o Exército nas refinarias da Petrobras na Bolívia e rompeu unilateralmente contratos com o empresário Eike Batista.

Os casos da Bolívia e agora o do Equador são uma tentativa de afirmação de vizinhos franzinos e pobres diante do Brasil, o grandalhão que ganha todas -inclusive o troféu de país que mais recebeu investimentos externos diretos na América Latina em 2007: US$ 34,6 bi, 84% mais do que no ano anterior, segundo a Unctad, braço da ONU para comércio e desenvolvimento.

É temerário, pois convém a países franzinos e pobres se comportarem direitinho, especialmente em momentos de crise, para não afugentar de vez os investimentos externos, mais e mais disputados e agora ameaçados por uma crise que tem origem, nada mais, nada menos, na maior potência.

Dito isso, aos fatos: a Odebrecht, com a soberba de grande empresa de um grande país, foi capaz de entregar a usina de San Francisco ao Equador com defeito.

Sim, com defeito! Inaugurada há 14 meses, com financiamento do BNDES, ela deixou de funcionar em junho, por causa do desabamento parcial de um túnel e do desgaste prematuro de rodas das turbinas.

Noves fora o dispensável discurso politiqueiro, Correa não tinha alternativa. Com crise ou sem crise, respeito é bom e o Equador gosta.

elianec@uol.com.br

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