terça-feira, 16 de setembro de 2008



16 de setembro de 2008
N° 15728 - MOACYR SCLIAR


Homenageando o Laçador

O 20 de Setembro que se aproxima tem um significado especial.

Este 2008 de tantas celebrações – centenário da morte de Machado de Assis, dos nascimentos de Guimarães Rosa e de Cyro Martins – coincide com o cinqüentenário de um monumento emblemático do Rio Grande do Sul, a Estátua do Laçador. Que, curiosamente, nasceu de uma solicitação paulista.

Em 1954, na Exposição do Quarto Centenário da capital paulista, na qual haveria uma grande exposição no Ibirapuera, foi aberto um concurso público para selecionar uma escultura que caracterizasse o gaúcho. O artista vencedor foi o pelotense Antônio Caringi, escultor de fama internacional e com passagem por diversos países europeus.

Tendo como modelo o tradicionalista Paixão Côrtes, Caringi conseguiu, de forma original, combinar a escultura clássica européia com a cultura gaúcha; digamos assim, o David do Michelângelo devidamente pilchado (gaúcho pelado como David de Florença? Nem pensar.).

O trabalho de Caringi era em gesso; depois da celebração do Quarto Centenário, deveria ser fundido em bronze e ofertado à cidade de São Paulo. Mas, por incrível que pareça, Porto Alegre não tinha então nenhum monumento ao gaúcho.

Surgiu um movimento popular reivindicando a compra da estátua, o que foi feito pela prefeitura. Em 20 de setembro de 1958, a obra foi solenemente apresentada ao público; ficava junto ao aeroporto Salgado Filho, depois transferida para o chamado Sítio do Laçador.

E a partir daí tornou-se um patrimônio artístico e afetivo da cidade e do Estado, tanto que, numa enquete popular realizada em 1991, a estátua foi escolhida como símbolo da capital gaúcha.

Atualmente, e depois da ação de vândalos, a boleadeira que a figura segurava foi substituída por um chicote. Mas a verdade é que a boleadeira seria mais significativa. Porque ela fala de uma outra dimensão do gaúcho.

Reparem bem: não é uma espada, não é um facão, não é um revólver. Não é, pois, uma imagem guerreira, a imagem que a tumultuada história do Rio Grande do Sul consolidou. É um rústico, antigo (os índios já o usavam), mas inteligente instrumento, que serve para capturar o gado.

Ou seja, a boleadeira fala-nos daquilo que foi a base histórica da nossa cultura, a criação do gado. Quem a pratica é o mesmo gaúcho que depois da lida no campo senta no galpão crioulo, tomando chimarrão e contando causos.

Uma existência até certo ponto humilde, mas Caringi nos mostra, com sua arte, que humildade não exclui grandeza, que existe beleza até mesmo nas coisas simples e prosaicas da vida. Grande Caringi. Grande Laçador. Grande Rio Grande.

Os nomes que condicionam destinos estão adquirindo dimensão internacional. Da Argentina chega-me um e-mail do Walter Duer, que também coleciona esse gênero de nomes e é autor de um livro chamado Marcados por el Destino: Cuando la vocación te llama por tu nombre (Marcados pelo destino:

quando a vocação te chama pelo nome), no qual reuniu, com uma diligência que este colunista não tem, dezenas de exemplos, alguns dos quais já citei aqui: o médico Fernando Cura, o vendedor de vinhos Aniceto Tinto, o fotógrafo Miklos Lente e a decoradora Claudia Adorno.

De presente, o Walter manda-me um nome que não figurou em seu livro, o do diretor do Programa Antidrogas de Mahoning County (Ohio, EUA).

Nome desse senhor: James Trafficant. Obrigado, grande Walter. Nada como essa visão cosmopolita dos nomes que condicionam

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