segunda-feira, 15 de setembro de 2008


Jaime Cimenti

O pai de Deus

Esses dias, quando vi estava almoçando ao lado de uma multidão. O homem do meu lado não era apenas um jogador. Era um time, vários times, mais os técnicos, preparadores físicos, massagistas, o presidente do clube e uma torcida tipo a do Flamengo.

Meu Deus, o cara era milhões. Mesmo um só dos egos do cara não caberia no estádio Ninho de Pássaro, lá da China. Ele falava do avô, da avó, da mãe, do pai, dos irmãos e exibia seus intermináveis eus.

Falava rápido, alto, cantava, declamava sem parar. De vez em quando, baixava um pouco o tom, só para ter o prazer de levantá-lo logo depois. Tentei dizer algo, interromper um pouco aquele trio-elétrico humano, mas não consegui.

O homem era apaixonado por ele e pela própria voz. O terceiro da mesa, esperto, fazia cara de paisagem, fingia ouvir o homem-mundo e tomava cálices e cálices de vinho.

Fiquei pensando que o cara me deu um bom exemplo de como não agir. Claro que eu e muitos de nós, tantas vezes, atuamos como o homem-time-multidão-torcida.

Nesse mundo e nesse século narcisos, na maior parte do tempo ouvimos que é preciso ser ousado, vencer, focar a força e a vaidade na vitória sobre si e sobre os outros. Uns dizem que modéstia é a qualidade de quem não tem qualidades. Não concordo.

Óbvio que poder, sexo, grana e vaidade movem os mundos desde sempre, mas acho que ainda dá tempo para estabelecer aí uns limitezinhos básicos.

Falar o tempo inteiro, sobre si e alto demais; esquecer que existem outras pessoas, idéias e coisas no planeta e achar que sabe tudo de tudo, por exemplo, melhor não, não é?

Se achar o todo poderoso criador-pai de Deus? Menos, né? Esperar que os outros falem bem da gente e falar bem dos outros sempre foi uma boa.

Enquanto vamos atrás das realizações da vida, entender e aceitar que a gente nunca vai poder e saber tudo certamente vai ajudar a dormir melhor e a não se tornar um exército de egos solitários, desses que estragam o almoço, a digestão e a paciência alheios.

Se a gente fica se achando e se sentindo demais, tipo o último biscoito da caixa, corremos o risco de ficar antipatizados globalmente, como certos vizinhos aí. Educadamente, não vou dizer seus nomes e nem os seus países.

Jaime Cimenti - Ótima segunda-feira e uma excelente semana... esta que por aqui será a semana Farroupilha.

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