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sexta-feira, 19 de setembro de 2008
19 de setembro de 2008
N° 15731 - DAVID COIMBRA
Pequenos prazeres
Omeu filhinho tem um ano de idade. Ainda não anda, só engatinha, embora o faça com velocidade vertiginosa. Se largá-lo na rua, será multado pelo pardal. Não se pode afrouxar a vigilância um segundo, porque ele está sempre pegando algo.
Tudo o que vê, quer tocar. Tudo: fios de eletrodomésticos, caules de abajures, garrafas térmicas cheias de água fervente e, o mais horrendo, livros com suas frágeis páginas de papel.
Natural: meu nenê está experimentando o mundo, a vida para ele é novidade. Precisamente isso é o que mais me encanta em observá-lo. Ver a excitação que demonstra com o que há de mais comezinho no seu entorno.
Por exemplo: nos últimos dias, meu filhinho aprendeu a dizer água. Estávamos na cama de manhã cedo, ele apontou para o copo sobre a mesa-de-cabeceira e falou baixinho: – Ácua...
Deu uma emoção, por Deus. Era a primeira palavra que ele pronunciava em português inteligível, a primeira que poderia ser entendida por mim ou por alguém que morasse, sei lá, no Piauí, se é que o Piauí existe, nunca ninguém me deu provas de que exista.
Ácua. Como gostei de ouvir aquilo. Tanto que ele percebeu e agora não pode ver um copo ou uma garrafa ou qualquer líquido sem repetir: – Ácua...
Nem está com sede, nem nada. É só para ver os adultos apitando: – Uóóóóó, que bonitinho...
Assim é com tudo o mais que ele vê ou ouve. Fica maravilhado com o gato da vizinha, com a formiguinha no pátio, com o sabor de uma bolacha nova, com a folha verde de uma planta de vaso. As plantas o deixam realmente embevecido.
Tem um pequeno canteiro de jasmins lá em casa. Manhã dessas, ele engatinhou até lá e enfiou a mão na terra com volúpia. Em seguida, tirou-a e ficou olhando para a própria mãozinha gorda preta de terra.
Excitou-se tanto com a visão da sua mão enegrecida e com a textura da terra que abriu a boca em ó e, ali como estava, sentadinho, com as pernas esticadas, mostrou-me a palma e gritou:
– Tê! Tê! Tê!
Pensei que é isso que interessa, afinal. Não faz diferença se a pessoa tem um aninho ou 90. O que importa é se ela gosta de estar viva.
E ela mostra que gosta de estar viva quando se entusiasma com os pequenos deleites da existência. Uma mulher que sente prazer com a comida, por exemplo. Ver uma mulher, de preferência uma bela mulher, comendo com prazer é algo que me alegra. Não é a quantidade de comida, mas a forma como ela come, apreciando cada garfada.
Oh, isso é bonito! Isso é a essência da vida! Gosto de pessoas que gostam de trinchar uma picanha sangrenta, de sorver um chope cremoso, de rir com os amigos, de ver um filme, ler um livro, ouvir uma música. Gosto de pessoas que gostam de viver, enfim.
Com esses pensamentos na cabeça, e vendo meu guri fascinado com sua mãozinha preta de terra, concluí que os prazeres da vida podem ser ainda mais simples. Como os dele: mexer na terra, tocar uma planta, observar uma minúscula formiga.
E, empolgado, fiquei olhando uma formiga por alguns segundos e depois toquei numa planta e depois sujei a mão com a terra preta.
E olhei para a minha mão e para aquela formiga e para a tal planta. Hm. Bem. Não achei muita graça. Melhor me divertir com a picanha sangrenta e o chope cremoso.
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