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domingo, 28 de setembro de 2008
CLÁUDIA COLLUCCI - A REPORTAGEM LOCAL
SAÚDE/MULHER
Mulheres usam injeção para estimular ponto G. Procedimento, que visa aumentar zona erógena, não é recomendado pela Anvisa
Nos EUA, no termo de consentimento que as pacientes assinam antes da injeção, há uma lista com 68 possíveis complicações
Enquanto o mundo ainda discute se o ponto G feminino existe de fato ou não, os americanos inventaram uma injeção de colágeno -o mesmo usado para preenchimento de rugas- que promete ampliar essa zona erógena e melhorar a performance sexual das mulheres.
A injeção, chamada "G-Shot", já está sendo oferecida por cirurgiões plásticos e ginecologistas brasileiros, mesmo sem nenhuma comprovação científica da eficácia ou da segurança.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não recomenda o uso do colágeno para tal fim, mas também não o proíbe. O órgão diz que a responsabilidade é do médico.
Especialistas consultados pela Folha se mostraram contrários ao procedimento, que não tem aval da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Até a existência do ponto G é controversa no meio científico.
Nos EUA, no termo de consentimento que as pacientes assinam antes da injeção, há uma lista com 68 possíveis complicações associadas ao procedimento -entre elas, infecção, perda da sensibilidade e retenção urinária.
O produto da injeção é o ácido hialurônico, usado para o preenchimento de rugas e lábios. A aplicação é feita na parede anterior da vagina, a cerca de 4 cm da abertura, onde supostamente estaria o ponto G.
A promessa é que o produto aumente essa área, tornando-a mais sensível durante a penetração do pênis, o que possibilitaria orgasmos mais intensos. O procedimento é feito no consultório médico, com anestesia local, e custa R$ 2.500 a sessão.
Atrito
O cirurgião plástico Murilo Caldeira Ribeiro, de São Paulo, um dos primeiros a oferecer a técnica no Brasil, afirma que a injeção é indicada para mulheres com "disfunção de orgasmo". "Muitas mulheres só conseguem ter orgasmo clitoriano, não o vaginal.
Com o ácido hialurônico, o ponto G fica mais saliente. Durante a penetração, há mais atrito e, então, dispara o orgasmo vaginal, o que melhora muito a vida sexual. Você volta a ter um orgasmo pleno."
Injeção na vagina não dói, doutor? "Nada, nada. Damos um pontinho de anestésico antes de aplicar a injeção e já está pronto. Os efeitos podem durar até um ano, mas o tempo pode variar de mulher para mulher", afirma o médico.
E a falta de comprovação científica da eficácia e da segurança? "Nos EUA e na Europa, especialmente na Itália, eles fazem amplamente esse procedimento, é seguro. No Brasil, as coisas demoram um pouco para acontecer. Controvérsia existe em tudo na medicina."
Ribeiro garante que o resultado é "fantástico". "Todo mundo está adorando o resultado. Todo mundo está se programando para, quando acabar [o efeito], fazer de novo."
O "todo mundo" a que ele se refere são 70 pacientes que já receberam a injeção na sua clínica. Segundo ele, mulheres acima dos 40 anos tendem a apresentar flacidez no canal vaginal, o que diminuiria o ponto G. A injeção só funcionaria nesses casos. "Se o problema for psicológico, não resolve", diz ele.
Elogios
A esteticista Mara, 48, diz que há 20 anos, quando se casou, tinha "muito prazer" durante as relações sexuais com marido. "Mas, depois, as coisas foram ficando mais mornas, fui perdendo o tesão."
Mãe de dois filhos, um de oito anos e outro de 12, ela conta que há sete meses seguiu o conselho de uma amiga e resolveu tentar melhorar sua vida sexual com a injeção no ponto G.
A injeção foi dada por um cirurgião plástico. "Melhorou uns 100%. Agora tenho vontade de transar. Meu marido está adorando essa nova Mara", brinca.
Eliane (nome fictício), 37, casada e mãe de dois filhos, também aprovou o procedimento.
"Meu marido questionava por que eu não tinha vontade de ter relações sexuais. Eu até tinha, mas na hora H não conseguia gozar", conta.
"Acho que antes eu nunca tinha tido orgasmo. Achava que tinha tido, mas não é nada perto do que eu sinto agora. Antes meu marido me procurava uma, no máximo duas vezes por semana.
Agora fazemos sexo de quatro a seis vezes. Ele já falou que, depois que passar um ano, vou ter que fazer de novo."
Colaborou BRUNA SANIELE
Citada pela 1ª vez em 1950, zona erógena é controversa
DA REPORTAGEM LOCAL
O nome ponto G surgiu em homenagem ao médico alemão Ernst Gräfenberg. Em 1950, ele publicou um livro que descrevia a existência de uma zona erógena na parede vaginal.
Três décadas depois, a comunidade científica voltou a discutir os estudos e deram o nome à região de "ponto de Gräfenberg" ou ponto G.
Segundo Gräfenberg, trata-se de uma zona erógena que quando bem estimulada leva as mulheres a orgasmos intensos.
Na comunidade científica, a existência do ponto é controversa. Os que acreditam dizem que a zona está numa área da vagina muito sensível, localizada na parede anterior, cerca de 2 cm a 5 cm de sua entrada.
A psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade da USP, diz que todos os órgãos têm um ponto de convergência de nervos. Na vagina, seria o ponto G. "Mas não se pensa mais em ponto fixo. Varia para cada pessoa."
Outra teoria, defendida pelo ginecologista Theo Lerner, é que a zona erógena seria a região interna e externa do clitóris. Para o sexólogo Amaury Mendes Júnior, "sexo não é onde se toca, mas como se toca.
A mulher deve se permitir se tocar e ter prazer com aquele homem ou com aquela mulher."
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