sábado, 27 de setembro de 2008



28 de setembro de 2008
N° 15742 - DAVID COIMBRA


Os destaques do Gre-Nal

1. O grandalhão

Richard Morales está a quatro centímetros de alçar-se a dois metros de altura. A torcida do Grêmio adora centroavantes com quase dois metros de altura.

Richard Morales é uruguaio. A torcida do Grêmio é meio uruguaia e, segundo o Peninha, também meio inglesa, meio alemã e meio argentina, se é que algo pode ter tantos meios.

Desde que pisou no gramado do Olímpico, levantou o queixo pronunciado e viu o cemitério na colina, Richard Morales range os dentes para falar da sua ânsia de jogar dentro da camisa do Grêmio.

O que mais precisaria para que os gremistas passassem a sonhar com Richard Morales no time, enfiando dois gols por partida?

Óbvio: Richard Morales em ação.

Bem. Na única tarde em que esteve em campo, 13 mínimos minutos contra o Atlético no Paraná, Richard Morales tocou na bola quatro vezes, pelo que contei. Uma parede bem-sucedida nas cercanias da meia-lua, um começo de arrancada arrematado com passe lateral, e os gremistas de olhos arregalados diante da TV.

De repente, Morales recebe a bola em meio ao cipoal típico da fronteira da grande área, enquadra o corpanzil e chuta. Seu primeiro chute no Grêmio. A bola sai veloz, rente à grama, a palmo e meio do poste, e os gremistas sorriem e balançam a cabeça. Mas foi com um quarto lance, logo depois ou pouco antes deste, que Morales extraiu suspiros de esperança do torcedor.

Foi um cruzamento levantado da direita, a bola viajava muito alta para um homem de parcos 180 centímetros de altura. Morales saltou para alcançá-la. Conseguiu. Testou-a para o meio da área, à procura de um atacante que viesse de trás a fim de empurrá-la para o gol.

Não apareceu ninguém, o jogo terminou zero a zero, mas pude ver gremistas congratulando-se e os ouvi a comentar sobre este lance nos dias subseqüentes. Porque, de fato, aquela é uma bola traiçoeira para o zagueiro.

O defensor espera que o centroavante tente cabecear para o gol, não está preparado para uma bola que cai mansa às suas costas, à feição para o adversário que vem ávido da retaguarda.

Morales não estará em campo, e sim no banco do Grêmio, neste domingo, mas estará também nos melhores planos do torcedor. Talvez ele nem entre em campo, mas o promovo desde já a destaque do Gre-Nal.

2. O rapidinho

O guepardo é o animal mais veloz sobre a superfície da Terra. Alcança as gazelas esquálidas, as lebres ligeiras, os roedores esquivos e os devora a todos. Isso graças às suas longas pernas e ao seu corpo aerodinâmico, capaz de atingir 110 quilômetros por hora, mais do que muito Fuca.

Só há um ser caminhante que o guepardo não pegaria na corrida:

Nilmar.

Sobretudo se, em frente a eles, estivesse uma bola.

Nilmar é da estirpe dos grandes velocistas do futebol brasileiro: Euler, o Filho do Vento; Tarciso, o Flecha Negra; e um colorado ilustre: Sapiranga.

Em 1961, Sapiranga ganhou um campeonato sozinho. O Grêmio tinha um time melhor e era pentacampeão. O Inter não tinha muito mais além de Sapiranga.

Era o que bastava.

Sapiranga enfrentou um marcador feroz, Ortunho, lateral-esquerdo que, em cada dividida, divertia-se ao ver a que distância conseguia atirar o ponteiro-direito adversário, que desabava na poeira todo troncho e disforme, feito o Recruta Zero depois de apanhar do Sargento Tainha.

Sapiranga saía dos Gre-Nais mostrando as lascas que a chuteira afiada de Ortunho havia arrancado das suas canelas.

Mas Sapiranga era tão rápido, tão rápido, que, mesmo vigiado de perto pelo inclemente Ortunho, vez ou outra escafedia-se rumo à linha de fundo e fazia o cruzamento ou o chute de viés.

Foi assim que o Inter venceu um dos campeonatos mais importantes da sua história. Porque, se não o vencesse, o Grêmio empilharia 13 títulos seguidos, algo tão assombroso que nem sei como se chama alguém que ganha 13 títulos seguidos.

Pois Nilmar é como Sapiranga. Sozinho, ele está construindo a campanha do Inter neste Brasileirão. Também o promovo a destaque do Gre-Nal antes de o Gre-Nal começar.

Nenhum comentário: