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sábado, 27 de setembro de 2008
27 de setembro de 2008
N° 15741 - NILSON SOUZA
O céu de Porto Alegre
No dia em que conheci o monastério de Melk, na Áustria, pensei que nunca mais chegaria tão perto do céu.
O lugar é mágico, tem 900 anos de história, uma igreja barroca e uma biblioteca com mais de 100 mil volumes, muitos deles mais antigos do que o personagem medieval ressuscitado por Umberto Eco – o célebre Adso de Melk – em O Nome da Rosa.
E fica encravado no alto de uma rocha, de onde se vê o Danúbio riscar aquele recanto encantado da Europa. Pois esta semana cheguei novamente perto do azul infinito, e essa possibilidade estava todo o tempo ao meu alcance.
Estive no teto de Porto Alegre, o Morro da Polícia, e também no Morro da Glória, onde se localiza o Santuário Nossa Senhora Mãe de Deus. Não são os lugares mais altos da Capital. Mas certamente são os mais impressionantes.
Do primeiro, se vê a cidade inteira, viva e exuberante, como uma aquarela recém pintada. Do segundo se vê aquela luz que deve ter inspirado o poeta Mário Quintana quando ele escreveu: “Oh, céus de Porto Alegre, como farei para levar-vos para o Céu?”.
Talvez eu tenha sido contagiado pela fé do meu anfitrião, o padre Antônio Lorenzato, que teve a bondade de me acompanhar na excursão aos dois morros.
Profundo conhecedor de cada pedra do bairro onde vive há mais de 30 anos e onde exerce a função de capelão do Hospital Divina Providência, o religioso me explicou pacientemente um paradoxo local: a famosa Gruta da Glória (Gruta Nossa Senhora de Lourdes) não fica na Glória e sim no bairro Cascata, que foi desmembrado da antiga localidade.
Pois monsenhor Lorenzato me levou a conhecer também o Santuário, que fica no Morro da Glória, onde também não é mais Glória. Mas o que interessa é a beleza e a paz do local.
O templo de linhas modernas tem vitrais lindos e uma estátua da padroeira feita em madeira de tília, vinda da Itália. Ao relatar-me que a imagem foi abençoada pelo papa João Paulo II, antes de ser trazida para o Brasil, o experiente religioso deixou escapar uma lágrima de emoção.
Também fiquei comovido com tudo o que presenciei. Sempre vejo minha cidade natal com os olhos do coração. Mas costumo observá-la a partir do espelho do Guaíba, chegando de alguma viagem ou percorrendo as calçadas de Ipanema.
Desta vez, tive o privilégio de subir nos seus ombros, auscultar-lhe a alma e vislumbrar o seu céu.
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