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quarta-feira, 17 de setembro de 2008
17 de setembro de 2008
N° 15729 - DIANA CORSO
Viver sem listas
Um homem da minha idade, 47 anos, Dave Freeman, autor do livro 100 Coisas a Fazer Antes de Morrer bateu a cabeça em casa e morreu. Não li seu livro, não lhe conheço a sabedoria, ou a ingenuidade, de acreditar que se pode ir embora com a sensação de estar quites com a vida.
Meu pai morreu com 87 anos, correu o mundo, sobreviveu à guerra, e não achava que tinha feito o suficiente para abrir mão da vida. Morreu inconformado, sem saber a que endereço encaminhar a solicitação de prorrogação de seu prazo, ele que amava tanto resolver tudo com cartas.
Por outro lado, comprei e ainda não li outro livro: Como Falar de Livros que Ainda não Lemos?, que, coerente com o título e com um de seus capítulos:
“Os livros que folheamos”, vou comentar. Nas entrevistas dele que sim li, o autor defende um estilo de abordagem criativa, na qual o leitor participa da obra antes, durante e depois da leitura efetuada, contribuindo com opiniões levianas, pois ainda desconhece a bibliografia completa do autor e até mesmo o fim do livro em curso.
Por esse critério, até leitores de orelhas têm direito a uma opinião digna de ser escutada.
O que me interessa neste caso é a postura, que vale para o livro e para a vida: Freeman, pelo que deduzo, parece ter encarado a vida como uma obra que poderia ser completada, que deveríamos tentar fruir em todos seus volumes, enquanto Pierre Bayard, o segundo autor, nos instiga a ler cada pedaço de muitos livros de forma irreverente, seguindo o curso de nossa curiosidade e preconceitos e aproveitando de cada um o pouco que conseguimos obter.
A partir desses pedaços que vamos colhendo vai se constituindo uma opinião sempre parcial, temporária, talvez um pouco irresponsável, mas certamente interessante. O jeito é ir misturando tudo, fazendo novas receitas com velhas matérias-primas e vice versa.
Na sugestão de leitura de Bayard, encontro um conselho de vida: desista de listar o que fazer antes de morrer. Fixar metas, olhos postos numa possível completude, é um bom método para descobrir, tarde demais, que a gente era feliz e não sabia.
Da mesma forma, ler uma obra impedindo-se de formar uma opinião antes de concluir um estudo completo é sufocar nossa inteligência.
Talvez o livro de Freeman, cujo conteúdo ignoro, contenha o sábio conselho de aproveitar cada uma dessas cem coisas sem pensar nas outras 99 que ainda não fizemos, mas uma lista sempre é uma coleção de dívidas e deveres. De qualquer maneira, é pena que ele tenha tido tão pouco tempo, logo ele...
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