sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008


ELIANE CANTANHÊDE

Neoprogressistas

PARIS - Representantes de partidos de esquerda e de centro-esquerda da Europa e alhures reuniram-se ontem em Paris para o seminário "A Via Progressista", com direito a palestra do ex-primeiro ministro inglês Tony Blair e do atual francês, François Fillon.

O anfiteatro Richelieu, da Sorbonne, estava lotado, inclusive de estudantes. Tiveram uma ótima chance de ouvir gente ilustre, carismática e bem-intencionada, mas não aprenderam nada de novo.
De Blair, "star" da festa:

1) a relação dos países ricos com a África não deve ser paternalista, mas de parceiros, com os ricos abrindo seus mercados e os pobres combatendo a corrupção;

2) os jovens europeus andam meio desconfiados com a UE e seu impacto sobre os empregos deles;

3) muita gente é contra a migração, sem ser racista;

4) o sistema de educação não está sendo capaz de ensinar as crianças a pensar. É preciso mudar;

5) os homens públicos às vezes são contraditórios. Exemplo: propõem menos taxas e, ao mesmo tempo, melhores serviços.
Ok. Eis aí um bom diagnóstico, mas e daí? Quais as sugestões?

O representante brasileiro, ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos), fez bonito. Presidiu uma das três mesas, foi o primeiro chamado a fazer perguntas a Blair e garantiu o próximo encontro dos "progressistas" em Brasília -para desgosto de Blair, que preferiria o Rio. (Será por quê?)

O curioso é que o único representante brasileiro num encontro internacional de centro-esquerda não é do PT, do PSB, do PDT, nem mesmo do PSDB. O ministro é do PRB, uma salada que mistura o vice José Alencar e a Igreja Universal.

Mangabeira foi convidado porque é Mangabeira, não pelo partido. E acabou sendo, assim, um símbolo da crise partidária no Brasil.
A centro-esquerda não está apenas sem respostas. Talvez esteja sem muitas outras coisas.

elianec@uol.com.br

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