RUTH
DE AQUINO
Não enlouqueça com os
preços
O
consumidor não gosta de se sentir otário. Está na hora de boicotar quem mete a
mão no nosso bolso. Quando o brasileiro médio começa a viajar ao exterior para
fazer compras sem se sentir roubado, é porque nossa economia desandou. Felizmente,
ainda não perdemos a referência de preços, como nossos hermanos na Argentina,
onde os índices são todos maquiados, e a presidente Cristina Kirchner restringe
o direito de ir e vir do cidadão. Mas tudo fica mais caro de um dia para outro
– de alimentos a serviços e passagens. E bem acima dos salários.
Fiz
um teste com uma lista de supermercado. Grãos, legumes, frutas, carnes, peixe,
legumes, verduras, laticínios, produtos de limpeza. Mínima quantidade de cada
mercadoria. No mercado Zona Sul do Leblon, paguei R$ 452. No mercado Mundial,
da Barra da Tijuca, R$ 345. Mesmas marcas, mesmos pesos. E uma diferença de 30%
no preço total. Só 12 quilômetros separam os dois estabelecimentos. Pesquise
sempre em qualquer cidade. Rasgar dinheiro é atestado de loucura.
Muitos
bares e botequins do Rio de Janeiro e de São Paulo aprenderam a lucrar o
máximo, tirando proveito da crise real e psicológica. Reduzem as porções – e o
tamanho dos salgados – e cobram R$ 5 a unidade. Em botecos cariocas
recomendados por guias, como Jobi ou Chico e Alaíde, os croquetes e bolinhos de
aipim ficaram raquíticos, viraram umas bolinhas. E mais caros. Parece que R$ 5
passou a ser o valor mínimo de qualquer coisa. É quanto os quiosques da praia
cobram por uma água de coco que pode acabar em três goles. Absurdo!
O
quiosque Palaphita Kitch, com bela vista na Lagoa Rodrigo de Freitas, se define
como uma “experiência mística”, onde você “entra um e sai outro” – bem mais
pobre e revoltado com os preços e o serviço. Uma caipirinha de cachaça “especial”
custava ali R$ 26 até pouco tempo atrás! Em Búzios, na costa norte do Rio, um
picolé na Praia de Geribá chega a custar R$ 13. Não, obrigada. Vou direto ao
fornecedor para satisfazer o desejo por sorvetes.
Jovens
resolveram contra-atacar a carestia desenfreada lançando sites úteis. O
www.riomaisbarato.com.br dá dicas de opções culturais gratuitas e lugares para
comer e beber que não provoquem indigestão na hora da conta. Em São Paulo,
quatro amigos criaram o www.boicotasp.com.br para alertar sobre as armadilhas.
Os usuários denunciam o grau de exploração do lugar, de 0 a 5, e podem publicar
foto do que consumiram com o preço ao lado.
Pesquise
sempre, em qualquer cidade. Rasgar dinheiro é um atestado de loucura
A
remarcação abusiva de preços é um duplo tiro no pé. Primeiro, afasta o cliente.
O consumo das famílias brasileiras caiu drasticamente no primeiro trimestre de
2013. Todos pensam duas vezes antes de comprar. A inadimplência aumentou. Uma
pesquisa da Fecomércio do Rio em nove regiões metropolitanas mostrou que os
brasileiros passaram a parcelar compras de alimentos com cartão de crédito. É a
primeira vez que isso acontece nos últimos sete anos.
Não
somos o povo mais culto do mundo. Mas a classe média não é desinformada. Os
gastos de turistas brasileiros no exterior se multiplicam. Nos Estados Unidos,
o que gastamos em compras só perde para japoneses e britânicos. Em Paris, as
ruas estão coalhadas de conterrâneos. Não é só porque o poder aquisitivo da
classe média aumentou no Brasil. É porque nosso país está caro demais,
impraticável. Gasolina, transporte, restaurante, shows.
Uma
tendência atual é viajar para Nova York ou Miami para fazer o enxoval do bebê.
Compra-se pela metade do preço, ou um quinto do preço às vezes, uma mercadoria
de mais qualidade que a oferecida no Brasil.
Nosso
país e o governo Dilma não fazem o menor esforço para estimular o turismo e o
consumo domésticos, com preços competitivos. Não temos ferrovias, e as
passagens de avião são um escândalo no Brasil. Na Europa, há promoções
incríveis com hospedagem. Barato para o padrão nacional.
No
bairro de Saint-Germain, em Paris, é possível comer direito em restaurante
chinês, japonês ou francês por 8 euros (entrada, prato e sobremesa).
Restaurantes sofisticados oferecem menus de almoço em conta, numa relação
custo-benefício inexistente no Brasil.
E os
vinhos? Um chileno de média para baixa qualidade custa, no Brasil, o mesmo que
um bom Bordeaux em Paris. Nos Estados Unidos, compra-se um Mouton Cadet por
menos de US$ 10. Resultado: turistas brasileiros têm comprado lá fora caixas de
vinho.
O
vilão são os impostos, as taxas? Está na hora de adequar tudo aos salários. O
consumidor não é masoquista. Ninguém está disposto a enlouquecer com os preços.
Esperamos que Dilma não imite a viúva Kirchner. A Argentina pune as vítimas de
sua política econômica e não os malfeitores. Podemos fazer melhor.
Um comentário:
A menos de uma hora, estava conversando com uma pessoa na porta de um açougue e presenciei esta cena. Um cliente adquiriu duas peças de carne nos valores de 78 e 73 reais. O dono do açougue, rapidamente, disse que o total era de 161 reais. E, em seguida, sugeriu uma linguicinha ótima para completar 200. O cliente concordou. O açougueiro pesou trinta reais de linguiça e disse: "Estava dando 171, com mais 30 fica 200 certo". ( setenta lembra sessenta, deve ter pensado). O interessante é que o comprador aceitou "na boa". Provavelmente, deve ter até achado que ganhou um desconto de um real.
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