segunda-feira, 3 de junho de 2013


03 de junho de 2013 | N° 17452
PAULO SANT’ANA

Os animais falantes

O Ministério da Saúde divulgou na semana passada um levantamento bombástico: faltam 50 mil médicos no Brasil.

E o mesmo Ministério da Saúde é até modesto: só quer importar 6 mil médicos.

O Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers) divulga 20 vezes por dia na Rádio Gaúcha o seu slogan-chefe: “Não se faz medicina sem médicos”.

Ora, se o Cremers afirma que não se faz medicina sem médicos, então como é que ele é contra a importação de médicos, se há falta de 50 mil deles no Brasil?

É a mais berrante contradição que já vi em toda a minha vida.

Ora, se não se faz medicina sem médicos e há falta de 50 mil médicos no Brasil, a conclusão é de que não se faz medicina no Brasil.

Como não importar médicos para só então fazer medicina no Brasil?

Não estou falando, obviamente, da enorme e eficiente medicina que os médicos brasileiros fazem nos grandes centros.

Mas é que lá no interior do Brasil, nos grotões, não tem medicina. E tem de ter.

O grande e maior pensador brasileiro, Millôr Fernandes, saiu-se com este genial pensamento: “Uma coisa é certa: se os animais falassem, não seria conosco, os homens, que eles iriam bater papo”.

Esse pensamento de Millôr dá o que pensar. Em primeiro lugar, se a natureza já contemplou os animais com os maus-tratos a que são submetidos pelos homens, não reservaria um castigo ainda maior para eles: o de ter de conversar conosco, falar conosco. Só ouviriam besteiras.

A segunda impressão é de que os animais falam, sim, senhores, mas entre si. Eu tenho curiosidade para saber o que eles falam entre si. Certamente se referem frequentemente às bestialidades que os homens cometem contra os animais.

Se as baleias, por exemplo, falassem, de que adiantariam seus oceânicos discursos dirigidos aos homens no sentido de que cessassem de dizimá-las como fizeram e fazem há milhares de anos. Bilhões de exemplares de baleias já foram mortos pelos homens. Se elas falassem, seríamos surdos aos seus apelos de sobrevivência.

Se os macacos falassem, certamente seriam os seres mais inteligentes sobre a Terra. Sem falar, eles já quase encostam nos homens em inteligência.

Se os cães falassem, ou escutassem a linguagem humana, acabaria essa imbecilidade nossa de amarrá-los em guias e coleiras. E, se os pitbulls falassem, quem sabe se não seriam menos ferozes, já que pediríamos explicações a eles sobre o morticínio que praticam contra crianças, idosos e pessoas em geral.

E, se os donos de pitbulls falassem, eles teriam de explicar como é que podem criar esses exterminadores do meio social.


E, se os animais falassem e os homens não, hoje a supremacia entre os seres seria dos animais sobre os homens, certamente.

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