02
de junho de 2013 | N° 17451
PAULO
SANT’ANA
Papa pecador
O
Jornal Nacional da última quarta-feira noticiou em manchete inicial que o papa
Francisco, perante milhares de fiéis na Praça de São Pedro, confessou em
discurso que é ou já foi pecador.
Não
achei tão bombástica assim a afirmação do Papa. Talvez porque eu não tenha
muita confiança na santidade que atribuem ao Papa.
Se o
próprio Jesus Cristo nos faz intuir em várias passagens bíblicas que se
recolhia às orações para evitar as tentações, por que o Papa estaria livre delas?
Diga-se
a esse respeito que, no episódio da expulsão dos vendilhões do templo por Jesus
Cristo, ele usou um chicote para vergastá-los ou pelo menos ameaçá-los. No meu
entender, naquele episódio, Cristo pecou pela prepotência. Se usasse de
palavras mansas e argumentos persuasivos, poderia ter tido também sucesso na
expulsão dos mercadores da religião.
Eu
concluo que até os santos pecam, principalmente nos pecados da carne. Eles não
são bruxos para escapar...
Tanto
que Santo Agostinho, um dos pilares doutrinários da Igreja Católica, pedia a
Deus em oração que não o livrasse dos desejos carnais, pelo menos enquanto
ainda lhe restasse alguma juventude.
Talvez
só São Francisco de Assis não tenha pecado. Emana da sua história uma santidade
tão doce e pura, que o torna na nossa lembrança um santo incorruptível.
O
papa Francisco não citou qual ou quais pecados comete ou cometeu. Mas eu
imagino que sejam pecados relativos não a ações suas, mas a pensamentos.
É
muito difícil para qualquer mortal e até mesmo para os santos deixar de ter
pensamentos pecaminosos. De repente, a ideia não consegue evitar pensamentos
voluptuosos, por exemplo.
Ou,
de repente, pode passar pela cabeça de um santo, mesmo que rapidamente, sem
consequência fática, a ideia de castigar corporalmente alguém que tenha errado.
Isso é um pecado.
Ou
será que não pode conter pecado qualquer pensamento, a julgar pelo ensinamento
do Direito Penal de que “o pensamento não delínque”?
Além
disso tudo, pecar não significa que isso possa acarretar punição definitiva ou
cabal ao pecador.
Está
aí o ensinamento religioso insistente de que o perdão é um dos mais frequentes
atos e faculdades divinas na resposta aos pecados humanos, tanto que Deus e a
Virgem Maria são chamados frequentemente nas orações humanas e clericais como
“misericordiosos”.
Um
samba brasileiro célebre, falando de amor, cita um verso extraordinário:
“Perdão foi feito pra gente pedir”. Isso não quer dizer absolutamente que se
pode pecar livremente porque em seguida o perdão será obrigatório.
Só
quer dizer, no entanto, que o perdão deve ser concedido compulsoriamente quando
o fiel se arrepende do erro ou pecado cometido. O arrependimento, este sim, é
componente essencial ao perdão.
Seria
um equívoco imperdoável que se concluísse que Deus perdoa a quem não se
arrepende do pecado cometido. Até mesmo porque não se arrepender de um pecado
cometido é, em última análise, cometer pela segunda vez o mesmo pecado.
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