02
de junho de 2013 | N° 17451
CLAUDIA
TAJES
Na cama com a insônia
Foi
matéria nos jornais: estamos dormindo menos e mal. O celular, sempre à mão para
olhar os e-mails e o Facebook entre uma virada e outra na cama, é uma das
razões para isso. O barulho da rua, coisas por fazer e a cabeça que não desliga
quando a luz apaga, situação típica dos quadros de estresse, são outros dos
motivos. Parece que o brasileiro dorme hoje uma hora a menos do que há 40 anos.
E
que a média nacional é de seis horas e meia por noite, bem distante das ideais
oito horas de descanso das modelos para ter a pele fresca e a aparência louçã.
Os homens são os mais afetados pela falta de sono. E a falta de sono causa
vários tipos de mazelas, como alterações na memória e no humor, interferências
no metabolismo, propensão a diabetes e impotência. Não se espante, pois, se a
sua senhora aparecer com um chazinho de camomila todas as noites. O seu sono
também é do interesse dela.
Na
literatura, a insônia já deu assunto para muita história boa. Existem insones
em obras de Proust, Tchekcov, Borges, Dostoievski e muitos mais autores que ou
não lembro, ou não li. A insônia confere dignidade a um personagem. Já eu durmo
tão fácil que chega a ser constrangedor. Em situações de tristeza extrema, de
pindaíba absoluta, de solidão completa, de desilusões variadas, de hecatombe no
trabalho, de desavenças familiares, mesmo assim eu durmo.
Pode
passar a errônea impressão de que não sei sofrer, mas juro que sei. A questão é
que durmo fácil. Em compensação, a maioria das pessoas das minhas relações
frita na cama todas as noites. Sem remédio, muitas preferem nem deitar. Conheci
um rapaz que não dormia há quatro anos. Era o que ele dizia. Faz tempo que não
o vejo. Espero que tenha conseguido pregar os olhos ou que, pelo menos, vire
personagem de livro. Nem que seja o Guinness Book.
Para
quem não consegue dormir de noite, existe o recurso dos pequenos sonos
reparadores. A sesta na cadeira do escritório ou sob a mesa de trabalho é um
deles. Quando meu filho era bebê, desenvolvi o método de dormir de pé durante o
minuto em que o leite da mamadeira esquentava no micro-ondas. Era reconfortante
e eu até sonhava. O cansaço de uma mãe recente deveria ser sintetizado por um
laboratório e receitado aos insones.
Derruba
qualquer um. Sobre sonos de emergência, li certa vez que, após algumas horas em
uma festa, a atriz Tônia Carrero ia ao banheiro e tirava uma soneca de 20
minutos. Depois disso, ficava pronta para varar a madrugada dançando. O único
senão é que, se o cochilo passasse dos 20 minutos, a Tônia emendava a noite
dormindo. Imagino o susto da moça da limpeza ao abrir a porta e encontrar uma
diva roncando na privada.
Quem
também nunca dorme são os adolescentes, não por insônia, mas porque não
concordam que a noite foi feita para descansar. Diferente das manhãs de aula, o
horário preferido deles para dormir. O esforço de uma mãe para tirar um
adolescente da cama deveria ser sintetizado por um laboratório e receitado aos
fracos. Não há nada, mas nada mesmo, que exija mais força, superação e
determinação de alguém.
Elena
reconta a história de Elena Andrade, atriz em início de carreira que se
suicidou aos 20 anos, quando sua irmã e diretora do documentário, a Petra
Costa, tinha apenas sete. Aos 29, Petra narra o filme como se fosse uma carta
para a irmã.
Elena
deixa uma impressão tão forte que o cineasta Jorge Furtado, em debate com a
Petra e com o escritor Peninha Bueno, perguntou o que a guria vai fazer agora
que já realizou um filmaço como este. O bate-papo está disponível em podcast na
radioeletrica.com. E para ver o trailer e mais informações. Depois é pensar em
Elena até dormindo.
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