Jaime
Cimenti
A dor e a beleza nas relações
familiares
Pelo
mundo todo mostra mais uma vez o talento da escritora norte-americana Julia
Glass, autora premiada com o prestigiado National Book Award e com três prêmios
Nelson Algren Award e, ainda, com o Tobias Wolf Award. Seu romance de estreia
Três Verões, publicado no Brasil pela Bertrand, venceu o National Book Award,
feito inédito, e a colocou no rol dos escritores mais importantes destes últimos
anos nos Estados Unidos.
Em
Pelo mundo todo a escritora trata, com extrema sensibilidade, da dor, da beleza
e das sutilezas que estão envolvidas nas relações familiares de nossos dias. Os
personagens se encontram e se perdem, se casam e se separam.
Fogem
para, mais tarde, se reencontrarem. Na narrativa, uma celebração de escolhas
pessoais culminará num evento maior do que os dramas de cada um: o 11 de
Setembro. No núcleo do romance, Greenie e Alan Duquette, casados há dez anos,
atravessam uma crise conjugal.
Vivem
em Greenwich Village, Nova Iorque, com George, o filho de quatro anos, o centro
do universo dos dois. Enquanto a carreira de Greenie como chef confeiteira
deslancha, Alan, ironicamente um psicoterapeuta que atende casais em crise, vê seu
consultório cada dia mais vazio.
Quando
oferecem a Greenie o emprego de chef de cozinha do governador do Novo México, o
cativante Ray McCrae, ela vê a oportunidade de fazer algumas mudanças na sua
vida e, consequentemente, na daqueles que a cercam. Em torno da trama principal
está Walter, dono de restaurante, gay e amigo de Greenie.
Ele
vive o drama de, mesmo sendo capaz de manter relações estáveis, não conseguir
encontrar o amor. Há também Saga, uma mulher de trinta e poucos anos, defensora
dos animais, que, após um acidente, tem a memória afetada e precisa reaprender
a lidar com o mundo.
Há Fenno
McLoad, gay e dono de uma livraria, que foi personagem do romance de estreia da
autora, Três Verões. Com reflexões acerca das alternativas e das
arbitrariedades da vida, das alegrias e dos conflitos das relações pessoais,
das dificuldades de comunicação e entendimento, os personagens deste livro
percorrem caminhos que, invariavelmente, são atravessados por outros. Julia
revela bem os paradoxos de uma família, a necessidade do conforto das amizades
e da volatilidade das relações íntimas, tanto homo quanto heterossexuais.
Incisiva
e ao mesmo tempo generosa, a narrativa fala de amor, de busca de desafios na
vida e, enfim, de como estamos nos relacionando atualmente. Editora Bertrand, 642
páginas.
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