sexta-feira, 11 de maio de 2012



11 de maio de 2012 | N° 17066
PAULO SANT’ANA

A loira chorosa

Descia eu ontem pelo elevador do prédio da minha dentista, doutora Marisa Motta Martins, onde tivera atribulações características de paciente e excelente atendimento profissional, quando se abriu a porta do elevador no térreo.

Estava para subir uma linda loura, que quando me viu disse que não podia acreditar no que estava vendo, chamou-me de seu ídolo e me disse que há muitos anos lê minha coluna.

E falou a loura esbelta que tem muitas lembranças acentuadas de minha coluna, mas naquele momento queria celebrar uma coluna antiga minha em que eu lamentava a morte da minha cadelinha poodle, a Pink.

E declarou a loura viva e inquieta que ao ler aquela coluna sobre a morte da minha cadelinha derramou-se num longo pranto.

Ato contínuo, ela pediu licença para chorar novamente na porta do elevador e derramou lágrimas sobre sua emoção pretérita, disse que para comemorar aquele encontro casual comigo e o fato de que a minha coluna aquela a levara a emocionar-se porque também tinha uma cadelinha (parece que ela me disse que seu bichinho também morreu) e que minha coluna a levara a recordar o quanto amava sua cachorrinha, só mesmo chorando novamente.

E chorava diante de mim a minha fã na tardinha de ontem, um espetáculo da natureza. Uma bela loira derramando lágrimas que tiveram como testemunha o dentista João Nelson Beltrão Eguia, que parou para ver a cena emocionante e me entregou seu cartão para que eu atestasse que não estava inventando uma história.

A moça loira me disse que se chama Selene e é proprietária da lojinha de artigos do Grêmio no Shopping Bourbon e que vai levar para o baú das suas melhores recordações aquele encontro comigo.

Despedi-me dela perguntando idiotamente se ela era casada e ela me respondeu que recentemente se separara, ao que eu fiz a piada: “Oba! Então, eu tenho chance”.

E foi-se a loira e fiquei eu pensando que os 22 títulos anuais consecutivos que obtive no Top Of Mind não são brincadeira: eles criaram um tal vínculo afetivo entre mim e meus leitores, entre mim e Zero Hora, entre mim e o Rio Grande, que acaba dando lugar a essas cenas comuns de emoção e encantamento, acontecidas comigo no turbilhão da vida cotidiana.

Por isso é que devem entender os leitores quando digo que esta coluna é toda a minha vida.

Por esta minha coluna, sem perceber, fiz amizade com centenas de milhares de gaúchos. Por esta coluna, me introduzi na vida e nos hábitos de multidões de pessoas que me leem e que me entendem – e de vez em quando não devem me entender, mas não perdem o hábito de me ler e todas as manhãs vão cheias de curiosidade para ver o que escrevi naquele dia.

Daqui a pouco mais de uma semana vou receber meu 22º Top Of Mind, numa cerimônia no União.

Estarei recebendo um tributo de mais de duas décadas e estarei de alguma forma prestando também um tributo a meus leitores e leitoras, alguns dos quais, quando por acaso me encontram na rua, chegam ao ponto de deflagrar um choro convulso de emoção somente por encontrar-me pessoalmente, coisa que não passava nunca na cabeça delas.

Não posso me queixar da vida se tanta gente dá tanta importância a mim.

E abençoo a mídia impressa, que me proporciona esses milagrosos encontros casuais que tenho com pessoas que me adoram e por isso mesmo passo também a adorá-las.

Isto é a vida, isto é viver, isto é uma bênção do Senhor e da Virgem cuja medalhinha de ouro está grudada no meu pescoço.

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