07
de maio de 2012 | N° 17062
LUIZ
ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Açores
Ao
lembrarmos os 260 anos de povoamento açoriano no Rio Grande do Sul, é comum
recorrer aos antigos laços de sangue, e por aí ficar – mas a verdade é muito
maior do que isto.
Os açorianos,
aqui chegados em pleno século 18, se abismaram pela vastidão da terra, pela
exuberância da natureza, pela variedade de animais, pelo sol ardente do verão e
pelos invernos de congelar, viram, também, desatendidas as promessas do seu
rei, que lhes daria campos, animais, sementes e instrumentos agrícolas.
Com
força, com ternura, souberam sobrepor-se às dificuldades e, já na primeira geração,
consideravam-se pertencentes ao novo mundo. Chegando por primeiro, constituíram
o cimento demográfico que serviu de matriz a todas as outras etnias e
nacionalidades que vieram depois, cada qual colaborando, a seu modo, para a
edificação do Rio Grande.
A
imensa maioria dos açorianos aquerenciou-se no campo, ganhando e possuindo,
individualmente, porções de terras maiores que as próprias ilhas de onde vieram.
Aqui propiciaram o surgimento de realidades espantosas: logo, todos andavam a
cavalo, independente de nascimento, quando, mas ilhas, até então, o cavalo era
montaria da nobreza.
Se
nas ilhas ajoelhavam-se e tiravam o chapéu ao avistarem um cavaleiro, aqui os
cavaleiros eram eles próprios. Não tinham de tirar o chapéu a ninguém, e ninguém
tirava o chapéu para eles. Aqui, o território do campo sem fim, da liberdade e
da dignidade humana.
A
realidade atual dos Açores, entretanto, supera tudo o que a História pode dizer:
alto índice de escolaridade, uma excelente universidade, museus
representativos, várias orquestras, bandas populares, bibliotecas bem equipadas
– fica na ilha de São Miguel a maior biblioteca camoniana do mundo –, galerias
de artes contemporâneas, academias de música, rotas turísticas que só crescem,
invejável rede hoteleira, pecuária de referência internacional, indústrias de
laticínios, cultura do chá (a única no Hemisfério Norte), pesquisa e utilização
do gás natural, pesca, dentre tantas atividades.
As
nove ilhas atlânticas representam um espaço de pleno desenvolvimento, capaz de
contrapor-se ao vendaval econômico e financeiro que varre a Europa. É importante
dizer que tudo isso é conseguido com respeito a sua flora e sua fauna isto é,
com sustentabilidade ambiental; hoje o mar dos Açores é considerado o mais
limpo do mundo e suas ilhas são reservas da biosfera.
Sim,
celebremos os 260 anos, mas, em igual medida, os Açores de nossos dias, têm
muito a dialogar conosco.
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