06
de maio de 2012 | N° 17061
PAULO
SANT’ANA
Forçoso é refletir
Todas
as pessoas que encontro me dizem que não gostam quando escrevo sobre a morte. Detestam
quando escrevo que estou para morrer.
Eu
gostaria de responder a essas pessoas com o que disse o imperador Marco Aurélio,
da Roma antiga, que era um filósofo: “Não sei por que se teme tanto a morte se
ela significa a paz, o descanso definitivo. Além disso, a morte é o único lugar
em que todos se tornam iguais”.
Em
outras palavras, Marco Aurélio quis dizer que a morte é uma coisa muito boa. A
melhor de todas as coisas.
E,
sendo assim, é paradoxal que todos não queiram morrer, lutam para não morrer.
Só quem
deseja a morte e não a teme são os suicidas.
De
alguma forma, Marco Aurélio, ao afirmar que a morte é a única situação em que
todos se tornam iguais, quis também afirmar que a única forma de socialismo é a
morte, ou seja, ao contrário do princípio constitucional brasileiro “de que
todos são iguais perante a lei”, todos são iguais perante a morte, isto sim.
Não
existe nada mais falso do que “todos são iguais perante a lei”. Os pobres, os
negros, os doentes do SUS, ninguém é igual perante a lei.
E o
pior e o mais perverso de tudo é quando as leis tornam os homens desiguais.
O
que faz o homem infeliz é exatamente ele acreditar na lei e na Justiça. Isso é o
que revolta o homem.
A
maior de todas as justiças, portanto, é a morte. Nela, o pobre e o rico se
igualam. A mulher e o homem se igualam. Até os animais e os homens se igualam
com a morte, tanto que nutro a esperança ardente de me reencontrar no céu com
meu adorável cãozinho Dick, morto há tantos anos e por quem tenho uma saudade
comovente e perfurante.
A
morte, já chegamos a esse acordo por esta reflexão, é justa.
E a
vida é profundamente injusta. Vejam o privilégio da herança, que separa os
homens em ricos e pobres desde o seu nascimento.
Ou
seja, é profundamente injusto que uma pessoa já nasça rica.
E não
é injusto que uma pessoa já nasça pobre. Afinal, ela tem a vida inteira pela
frente para adquirir seu patrimônio.
Enquanto
aquele que já nasceu rico nem precisa esforçar-se para adquirir patrimônio, ele
já o possuía desde seu nascimento.
Outro
privilégio odioso da vida é que umas pessoas já nasçam bonitas, enquanto outras
nascem feias.
Uns
já nascem fortes, robustos, outros nascem mirrados ou doentes. Pode existir
maior desigualdade decretada exatamente pela vida? É incrível, mas só quem pode
corrigir isso é a morte.
Eu
confesso que, como todos, não tenho boa ideia sobre a morte. Mas será que não
estou enganado?
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