sexta-feira, 4 de julho de 2014

Jaime Cimenti

Solidões urbanas

Nos Estados Unidos, 75% das pessoas vivem em apenas 2% do território nacional, em cidades. No Brasil não se chegou a tanto, mas a tendência é seguir na mesma direção. Como se sabe, é muito grande a solidão nos centros urbanos em todo o planeta. Solidão (Geração Editorial, 192 páginas), livro de reportagens do consagrado jornalista José Maria Mayrink, reúne os famosos textos publicados em dezembro de 1982 no jornal O Estado de S. Paulo.

Escritos em primeira pessoa, longos, literários, tiveram enorme e instantânea repercussão. Mayrink foi a campo conversar com mendigos, moradores de rua, trabalhadores noturnos, imigrantes, presidiários, cidadãos comuns, padres e freiras reclusos nos mosteiros e conventos, e recolheu histórias comoventes sobre solidão, sensação de abandono, desespero, tristeza e angústia.

Muitos leitores se identificaram com os que vivem sozinhos ou solitários em meio à multidão, aos “sons do silêncio” e aos ruídos, tantas vezes metálicos e impessoais, das metrópoles. O jornalista, escritor e editor do livro, Luiz Fernando Emediato, na introdução, diz que, em 1978, 300 mil pessoas moravam sozinhas em São Paulo, em pequenos apartamentos, no espaço vazio das mansões, debaixo das pontes e dos viadutos e até em túmulos vazios dos cemitérios.

Naquela época, segundo o IBGE, dez pessoas tentavam se matar, todos os dias, de tédio e solidão, em SP. Infelizmente, a série de reportagens de Mayrink, um dos mais premiados, renomados e experientes jornalistas brasileiros, mais de trinta anos depois, mostra atualidade.

Um dos entrevistados, o psicanalista João Batista Ferreira, disse que “a solidão é do mundo, não tanto das pessoas, porque estamos numa época de empobrecimento geral. O mundo está sozinho”. Por aí, mudamos, avançamos, progredimos, nascemos aos montes, enchemos as megalópoles, estamos e não estamos acompanhados nas redes sociais feito os personagens das telas de Edward Hopper, sozinhos em bares, praias, restaurantes, casas, hotéis e domingos. Hopper, o genial pintor da solidão americana.

As fotos e textos do livro de Mayrink são uma inspiração para a gente se enxergar e se encontrar melhor, em meio ao concreto, ao asfalto, aos vapores da gasolina e do diesel e à natureza bonita que ainda temos. É muitíssimo.


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