06
de julho de 2014 | N° 17851
CÓDIGO
DAVID | David Coimbra
Todos têm qualidades e
defeitos
ESSE
CARA NÃO VAI GANHAR GORJETA
Se
tem algo que me irrita nos Estados Unidos é esse sistema deles da gorjeta. Todo
mundo espera gorjeta, não é só garçom. O garçom, até entendo. Muitos garçons
dos Estados Unidos, a única coisa que eles ganham é a gorjeta. Então, por
justiça, você tem de pagar de 15% a 20% a mais na conta. Não dar gorjeta é meio
ofensivo. Um amigo meu, brasileiríssimo, foi saindo do restaurante em Nova York
sem dar gorjeta e o garçom o interpelou com delicadeza:
– O
senhor desculpa. Houve algum problema no seu atendimento?
Ele:
– Ar... Não... Por quê? Ah, não dei gorjeta? Que distração a minha, aí está, aí
está!
E
deu gordos vinte e tantos por cento.
No
Japão é o contrário. Lá, eles não aceitam gorjeta de jeito nenhum. Se você
deixar dinheiro a mais no pires, o garçom vai atrás para devolver. Corre uma
quadra atrás de você para dar-lhe o troco. Se você insistir, ele fica meio
chateado e recusa firmemente dando um monte de explicações em japonês de uma
forma que o deixará confuso.
De
uma maneira ou de outra, os dois sistemas funcionam no quesito atendimento.
Tanto no Japão quanto nos Estados Unidos, os garçons são muito gentis. Por
aqui, é de praxe eles se achegarem à mesa para saber se está tudo bem, estão
sempre sorrindo e fazendo brincadeiras. São bem-humorados, esses garçons
americanos.
Certo.
Mas
e os outros profissionais? A maioria dos prestadores de serviço espera gorjeta.
Outro dia, fui ao supermercado, saí carregado de pacotes e chamei um táxi. O
motorista abriu o porta-malas lá do assento dele.
–
Open! – gritou, sem nem olhar para trás.
Abri
o porta-malas, ajeitei os pacotes, fechei o porta-malas, entrei no táxi,
cumprimentei-o e ele não respondeu. Paciência. Dei o endereço. Quando chegamos,
ele abriu o porta-malas pelo painel e gritou de novo:
–
Open!
Tirei
todas as compras, acomodei-as na calçada. Fui pagar e, então, ele finalmente
falou uma frase completa. Perguntou quanto eu iria dar de gorjeta. Respondi que
pagaria E-XA-TA-MEN-TE o que estava no taxímetro. Nem um maldito centavo para
aquele cara. Ele me devolveu o troco de cenho franzido e saiu cantando pneu.
Alguém,
por favor, chame os japoneses.
BOM
DIA, ESTRANHO
Os
americanos cumprimentam a gente. Pelo menos esses aqui da Nova Inglaterra. É
estranho. Você está caminhando na rua, faz contato visual com um passante e ele
dá bom-dia. Fiquei surpreso, nas primeiras vezes. Por que aquele cara me
cumprimentou? Será que me conhece? Será brasileiro? Será que nos vimos em outra
circunstância?
Resolvi
experimentar para ver se a coisa se repetia. Olhei para outra pessoa na
calçada, ela sorriu e me cumprimentou. Cumprimentei de volta, encantado. Bonito
isso. Afinal, somos todos colegas transeuntes. É uma certa solidariedade de
classe, transeuntes unidos jamais serão vencidos.
Em
Nova York essas gentilezas não acontecem. Gente demais. Seria cansativo de
passar o tempo todo sorrindo:
–
Bom dia! Bom dia! Bom dia! Bom dia! Bomdiabomdiabomdiabomdia!
Metrópoles
são selvagens porque têm tudo em excesso.
A
HOLANDESA
A
propósito de defeitos e qualidades, todos os dias alguém me manda um texto de
certa escritora holandesa da qual jamais ouvi falar, descrevendo as coisas boas
do Brasil, comparando-as com as coisas ruins da Europa e dos Estados Unidos.
Ela diz, por exemplo:
“Nos
Estados Unidos e na Europa, ninguém tem o hábito de enrolar o sanduíche em um
guardanapo”.
Ou:
“O Brasil é o único país do hemisfério sul que está participando do Projeto
Genoma”.
De
onde é que tiraram essa escritora holandesa?
Vamos
arranjar um estrangeiro que defenda melhor o Brasil.
Chamem
os japoneses!
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