sábado, 5 de julho de 2014


06 de julho de 2014 | N° 17851
CÓDIGO DAVID | David Coimbra

Todos têm qualidades e defeitos

ESSE CARA NÃO VAI GANHAR GORJETA

Se tem algo que me irrita nos Estados Unidos é esse sistema deles da gorjeta. Todo mundo espera gorjeta, não é só garçom. O garçom, até entendo. Muitos garçons dos Estados Unidos, a única coisa que eles ganham é a gorjeta. Então, por justiça, você tem de pagar de 15% a 20% a mais na conta. Não dar gorjeta é meio ofensivo. Um amigo meu, brasileiríssimo, foi saindo do restaurante em Nova York sem dar gorjeta e o garçom o interpelou com delicadeza:

– O senhor desculpa. Houve algum problema no seu atendimento?

Ele: – Ar... Não... Por quê? Ah, não dei gorjeta? Que distração a minha, aí está, aí está!

E deu gordos vinte e tantos por cento.

No Japão é o contrário. Lá, eles não aceitam gorjeta de jeito nenhum. Se você deixar dinheiro a mais no pires, o garçom vai atrás para devolver. Corre uma quadra atrás de você para dar-lhe o troco. Se você insistir, ele fica meio chateado e recusa firmemente dando um monte de explicações em japonês de uma forma que o deixará confuso.

De uma maneira ou de outra, os dois sistemas funcionam no quesito atendimento. Tanto no Japão quanto nos Estados Unidos, os garçons são muito gentis. Por aqui, é de praxe eles se achegarem à mesa para saber se está tudo bem, estão sempre sorrindo e fazendo brincadeiras. São bem-humorados, esses garçons americanos.

Certo.

Mas e os outros profissionais? A maioria dos prestadores de serviço espera gorjeta. Outro dia, fui ao supermercado, saí carregado de pacotes e chamei um táxi. O motorista abriu o porta-malas lá do assento dele.

– Open! – gritou, sem nem olhar para trás.

Abri o porta-malas, ajeitei os pacotes, fechei o porta-malas, entrei no táxi, cumprimentei-o e ele não respondeu. Paciência. Dei o endereço. Quando chegamos, ele abriu o porta-malas pelo painel e gritou de novo:

– Open!

Tirei todas as compras, acomodei-as na calçada. Fui pagar e, então, ele finalmente falou uma frase completa. Perguntou quanto eu iria dar de gorjeta. Respondi que pagaria E-XA-TA-MEN-TE o que estava no taxímetro. Nem um maldito centavo para aquele cara. Ele me devolveu o troco de cenho franzido e saiu cantando pneu.

Alguém, por favor, chame os japoneses.

BOM DIA, ESTRANHO

Os americanos cumprimentam a gente. Pelo menos esses aqui da Nova Inglaterra. É estranho. Você está caminhando na rua, faz contato visual com um passante e ele dá bom-dia. Fiquei surpreso, nas primeiras vezes. Por que aquele cara me cumprimentou? Será que me conhece? Será brasileiro? Será que nos vimos em outra circunstância?

Resolvi experimentar para ver se a coisa se repetia. Olhei para outra pessoa na calçada, ela sorriu e me cumprimentou. Cumprimentei de volta, encantado. Bonito isso. Afinal, somos todos colegas transeuntes. É uma certa solidariedade de classe, transeuntes unidos jamais serão vencidos.

Em Nova York essas gentilezas não acontecem. Gente demais. Seria cansativo de passar o tempo todo sorrindo:

– Bom dia! Bom dia! Bom dia! Bom dia! Bomdiabomdiabomdiabomdia!

Metrópoles são selvagens porque têm tudo em excesso.

A HOLANDESA

A propósito de defeitos e qualidades, todos os dias alguém me manda um texto de certa escritora holandesa da qual jamais ouvi falar, descrevendo as coisas boas do Brasil, comparando-as com as coisas ruins da Europa e dos Estados Unidos. Ela diz, por exemplo:

“Nos Estados Unidos e na Europa, ninguém tem o hábito de enrolar o sanduíche em um guardanapo”.

Ou: “O Brasil é o único país do hemisfério sul que está participando do Projeto Genoma”.

De onde é que tiraram essa escritora holandesa?

Vamos arranjar um estrangeiro que defenda melhor o Brasil.


Chamem os japoneses!

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