03
de julho de 2014 | N° 17848
MÁRIO
CORSO
De volta à
querência
Como
os outros brasileiros veem os gaúchos é uma questão. Como nós nos vemos é
outra. Uma terceira seria como entendem nosso Estado aqueles de nós que
percorreram caminhos mais largos no mundo. Eu prefiro a última. Afinal, é
alguém que nos conhece e sabe do mundo. Como é daqui, gosta deste pago e não
joga contra por jogar. Em suma, é um de nós com a dádiva de um olhar deslocado
pela experiência estrangeira.
E o
que dizem de nós os gaúchos que voltaram? Ouvi muitos relatos desses que têm
esse olhar ao mesmo tempo forasteiro e crioulo, até que esses dias escutei um
mais aguçado: do Walter Lidio Nunes, um gestor de empresa interessado em
questões sociais. A fala dele precipitou um entendimento que já me perseguia.
Ele diz que um pouco da crise pela qual nosso Estado passa deve-se a nossa
peculiar mentalidade conservadora.
Não
entenda conservador como uma maneira mais lenta de assimilar o novo, trata-se
de uma resistência à novidade, mesmo que ela seja melhor. E isso em qualquer
setor, por exemplo: um engenheiro propõe uma maneira mais barata, mais eficaz e
mais ecológica. Razões mais do que justas, mas a resposta é: mas nós sempre
fizemos assim, por que mudar?
A
novidade é vista aqui com desconfiança por ser sentida como estrangeira. O
gaúcho parte do princípio de que o outro estaria querendo lhe tirar algo, logo,
o que vem de fora é potencialmente prejudicial.
Já
estamos acostumados com o conservadorismo de domingo, ao modo do MTG, a questão
que interessa nesse caso é essa inflexibilidade nos dias de semana, que
compromete os avanços do Estado em várias áreas. Walter comenta que somos
conhecidos pelas bipolaridades irreconciliáveis, praticamente não mudamos de
opinião. Achamos que mudar é falta de caráter, preferimos seguir no engano,
mostrando uma coerência com a história pessoal e não com a realidade fática.
Capturados
em reafirmar as pequenas diferenças, esquecemos as enormes convergências. Não
nos interessa se a ideia é boa ou ruim, mas de quem ela veio, e a discordância
é sempre em bloco, sem nuances. Transformamos a saudável discussão política em
paixão clubista. Ou seja, facilmente atolamos pela incapacidade de atuar
juntos. Em suas palavras: nosso Estado se guia pelo retrovisor e não olha para
frente.
São
teses duras que infelizmente me fazem eco. Espero, pelo bem do Estado, que
estejamos enganados e que nos desmintam, que mostrem existir áreas em que
ponteamos, em que somos inovadores. Mas, por favor, com fatos, não com
ufanismo, porque isso já é a inflação que acusa uma falha no valor. O orgulho
exacerbado de ser gaúcho é uma resposta à queda de nossa importância política e
econômica no quadro do Brasil.
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