ELIANE
CANTANHÊDE
O Estado da (nossa) União
BRASÍLIA - A presidente Dilma
Rousseff foi a Davos, do outro lado do Atlântico, mas delegou ao chefe da Casa
Civil a entrega da sua mensagem para a reabertura do Congresso, do outro lado
da rua, como tem sido a praxe dos sucessivos governos. Por que será?
Se Dilma não decidir na última
hora ir, Aloizio Mercadante sai da Educação, assume a Casa Civil às 11h e no
meio da tarde já vai entrar no Congresso, amanhã, com a mensagem presidencial
debaixo do braço como se presidente fosse.
Nos EUA, o discurso dos presidentes
sobre o Estado da União, a cada início de ano, é um grande evento que não
apenas mobiliza o governo e o mundo político como é aguardado com ansiedade
pela população. Cidadãos e cidadãs querem saber o que o chefe da Nação tem a
lhes dizer: o que realizou, o que se compromete a realizar. É coisa séria, para
valer. Obama não está nos seus melhores momentos e fez um discurso chocho, sem
impacto, mas mesmo assim cumpriu a tarefa.
O presidente Bill Clinton,
debaixo de pesadas críticas e ameaçado até de impeachment, por causa do
envolvimento heterodoxo com a estagiária Monica Lewinsky, foi ao Congresso,
respirou fundo, fez um balanço vibrante do seu governo, assumiu compromissos
contundentes para educação e emprego e acabou aplaudido de pé. Vi e pensei:
sabe quando o Clinton vai cair? Nunca.
Se a forma no Brasil parece
equivocada, o conteúdo da mensagem de Dilma dificilmente deixará de ser o mais
do mesmo do discurso no Fórum Econômico Mundial. Listará (pela voz anódina do
vice-presidente da Câmara) os dados da economia sob a ótica governista e os
programas sociais que animarão seus palanques e os programas de TV da campanha,
a começar do "Mais Médicos" e do "Minha Casa, Minha Vida",
que você está careca de conhecer.
Realmente, o Congresso no Brasil
não está com essa bola toda.
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