08 de fevereiro de 2014
| N° 17698
EDITORIAIS ZH
PERDA DE CONTROLE
Além de transtornos e prejuízos
incalculáveis para a população, a prolongada paralisação do transporte público
em Porto Alegre está destruindo a confiança dos cidadãos nas instituições e
provocando danos visíveis no próprio movimento sindical. Pelo que se viu ontem,
com alguns profissionais pressionando para trabalhar e esbarrando em piquetes
reforçados por ativistas profissionais, o movimento já divide os próprios
trabalhadores e fragiliza a entidade representativa da categoria. Os próprios
dirigentes do Sindicato dos Rodoviários já reclamam abertamente da
interferência de políticos, integrantes de movimentos sociais e militantes de
organizações das mais diversas origens.
O pior para os grevistas
bem-intencionados é que o movimento chegou a um ponto em que companheiros de
trabalho brigam entre si. Isso ficou evidente ontem, depois que os funcionários
da Viação Teresópolis Cavalhada tentaram sair para trabalhar e foram impedidos
por uma minoria. Registrou-se, inclusive, o apedrejamento de um dos 13 veículos
que chegaram a circular por alguns momentos, o que os obrigou a retornar à
garagem.
É difícil acreditar que um colega
de ofício jogue pedras no outro – ou o ameace de morte, como denunciou um dos
motoristas. Mas o depoimento dos profissionais registrado em vídeo por este
jornal não deixa dúvida: muitos queriam voltar ao trabalho e se consideravam
cerceados no seu direito pelos chamados piqueteiros. O presidente do sindicato,
Julio Gamaliel, reclamou abertamente durante entrevista coletiva de que os
políticos estão prejudicando as negociações e de que pessoas que não fazem
parte da categoria, entre elas estudantes, estavam sentados na frente das
garagens.
Como há uma assembleia programada
para a próxima segunda-feira, resta torcer para que os rodoviários recuperem o
controle do próprio movimento e decidam de acordo com seus interesses, sem se
submeterem a pressões externas. Infelizmente, crescem no país os grupos
ativistas interessados em ver o circo pegar fogo, que se valem de qualquer
pretexto para semear a violência e o desrespeito ao convívio democrático.
O desgaste de todas as partes
recomenda que essa greve tenha um desfecho logo, de preferência de modo digno
para os envolvidos. Ainda que se reconheça o direito dos trabalhadores de
lutarem por melhores condições, a suspensão total da circulação de veículos foi
um erro estratégico muito grande, especialmente pelos transtornos causados à
população, mas também pelo menosprezo à legislação, à autoridade judiciária e
ao próprio acordo firmado pelas lideranças sindicais.
Os trabalhadores rodoviários
estão desafiados a evitar as más influências para recuperar a própria autonomia
e a confiança da população.
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