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sábado, 7 de novembro de 2009
08 de novembro de 2009 | N° 16149
PAULO SANT’ANA
Lula e Obama
Ali onde medra a competência, pois justamente ali viceja por conseguinte a incompetência. Nascida justamente da arrogância e autossuficiência da competência.
Meus ouvidos já surdos pelas cirurgias têm conseguido ainda captar nas ondas sonoras impropriedades de causar revolta.
Quem cala consente, quem não cala dissente.
Quem cala não quer entrar na briga. Quem não cala arrisca a sua pele mas atende a um dever de consciência.
Olho-me no espelho periodicamente e me orgulho de não ter calado na maioria das vezes.
E me envergonho enrubescido das vezes em que por covardia calei.
Firme-se em pé o leitor ou a leitora, cuidado para não tombar, cheio de cuidados abordo a notícia: Lula prometeu que vai telefonar para Barack Obama, aconselhando-o a implantar o Sistema Único de Saúde (SUS) nos EUA.
Pergunta óbvia minha: os norte-americanos tolerarão entrar numa fila que demora seis anos para se submeterem a uma cirurgia de urgência?
Os norte-americanos tolerarão as longas e angustiantes filas das emergências?
Os hospitais norte-americanos suportarão as baixas e ridículas compensações para seus serviços da tabela massacrante do SUS?
Os médicos norte-americanos aceitarão pouco mais de R$ 20 por cada cirurgia que intentarem?
Os norte-americanos, ao contrário dos brasileiros, entenderão que é melhor ser atendido pelo SUS do que pelo convênio?
Quem me leu acima pode ter pensado que sou rigoroso demais com o SUS. E sou, porque na maioria das vezes desconheço os relevantes serviços prestados pelo SUS à sociedade brasileira.
Ainda mais significativos são os serviços prestados pelo SUS porque sobre ele foram derrubados milhões e milhões de pessoas que têm direito a atendimento de saúde sem terem jamais recolhido um tostão à previdência. Ou seja, coube ao SUS suportar a imensa carga dos que não são segurados e que, pela pobreza, pela miserabilidade, pela orfandade social, tinham de ter atendimento em algum lugar: no SUS.
Isso, no entanto, não me impede de considerar que, se Lula aconselha Obama a adotar o SUS, é absolutamente certo que o presidente brasileiro não conhece a face escura do SUS, parece que só leva em conta as virtudes do SUS.
Mesmo assim, não me espanta que Lula dê assim atenção aos problemas dos outros países, mete-se nos assuntos internos de Honduras e agora, supremo atrevimento, quer ajudar a resolver o grande problema da saúde norte-americana.
Lula é um universalista.
Eu só queria que ele desse mais atenção ao drama dos aposentados brasileiros que percebem mais de um salário mínimo, ganhando consciência de que seus ganhos estão minguando até a miserabilização pela ausência de reajustes minimamente dignos.
Quem sabe, o Obama telefona para o Lula e oferece a ele para que adote no Brasil o sistema de aposentadorias norte-americano?
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