sábado, 21 de novembro de 2009



21 de novembro de 2009 | N° 16162
PAULO SANT’ANA


A bela sozinha

Estou no fumódromo e uma das cadeiras ocupadas o é por uma linda moça, ali pelos 20 anos, no máximo 22. Um portento de senhorita.

Pernas torneadas, cabelo alinhado, pés e mãos com dedos simétricos, deixa antever duas maçãs nos seios que se forem se libertar do sutiã parecerão dois pombos assustados.

Bela senhorita. Além de tudo, é portadora de uma meiguice encantadora.

Pergunto-lhe de chofre: “Deve ser fácil para você arranjar um namorado?”.

Ela respondeu prontamente: “Tá muito difícil”.

Fico a cismar no que deseja mais a minha curiosidade que não seja perscrutar a alma da forçosa moça.

No entanto, está difícil para ela arranjar um par. Imagino como são idiotas os rapazes que deixam de explorar aquela energia desaproveitada.

Como dizem na rua, o difícil é a relação. Aquela moça por exemplo está prestes a ser conquistada, no apogeu da sua formosura e juventude.

E no entanto não lhe surge o príncipe encantado.

Falta um estalo para aquela moça ou para cada um dos seus prováveis pretendentes.

É só uma questão de encaixe, alguém que adivinhe ou simplesmente constate os seus encantos.

Mas está ali aquela moça abandonada, amor febril para doar, estuante, pronta para a entrega, ou apta para a pronta entrega, e não aparece nenhum imbecil para desfrutá-la.

Como são intrincadas as relações humanas! Como é penoso livrar-se da solidão, mesmo que estejam aptas as pessoas para se entrelaçarem!

Aquela senhorita não pode continuar sozinha. Mas visivelmente há algo nela que a impede de aproximar-se de alguém que a entenda e mostre interesse.

E assoma como transcendental a sua beleza, o seu aspecto frágil de gata esquiva apelando por um adestrador.

Quantos e quantos desperdícios como esse espalhados por aí! Quanta gente à procura de um cais onde atraque seu vulto esplêndido de jovem bela e oferecida à procura de quem a guie pelos caminhos deliciosos do amor!

Mas por que prosperam assim tantas incompletudes? Por que tanta ânsia desatendida, por que tantos fastios desanimados?

Por que é indispensável que a mulher se una ao homem para realizar-se? Por que, enquanto não se dá esse encontro, uma frustração amassante percorre esses seres dilacerados, essas almas abandonadas à procura de um refúgio, de uma realização?

Por quê? Para que serve a semente sem germinação? Mas por que é tão difícil encontrar terra fértil e propícia em que prospere?

O que intriga é que eu não esteja aqui com piedade de uma mulher feia, sem atrativos, indesejável.

O que me deixa estupefato é que estou sentindo compaixão por uma mulher bela e desejante, capaz também pela sua ternura de fazer qualquer homem feliz.

Será a timidez que a impede de relacionar-se? A ofuscante beleza é que não é.

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