sexta-feira, 20 de novembro de 2009



20 de novembro de 2009 | N° 16161
PAULO SANT’ANA


Os insones

De repente, me assalta indagar sobre o que vem a ser a insônia.

Só se apercebem que a insônia é uma doença os que de uma hora para outra, em noites sucessivas, se veem impedidos de conciliar o sono.

Logo lhes ocorre que a insônia deve ser uma súbita supremacia das preocupações contra o sono.

Mas sempre tiveram preocupações e nunca deixaram de dormir, como agora lhes sucede isso?

É preciso dormir para descansar e alimentar os músculos e os ossos, recuperar-se do dia fatigante.

E o sono não vem. Mas como é que antes vinha?

O sono é um dos prazeres da vida. Outro prazer é o paladar. Mas nunca ouvi dizer que alguém tivesse perdido o paladar como se perde o sono.

É possível que a algum desfavorecido da sorte tenha lhe desaparecido o paladar. Reflito, então, que a falta do sono é igual à falta do paladar.

Porque são transcendentais à sobrevivência humana os atos de comer e dormir. Ambos têm a salutar função de alimentar o corpo.

E, se não há notícia de que tenham falhado as glândulas gustativas de alguém, no entanto nos jornais e revistas pululam pessoas se queixando de insônia. E como resolvem suas insônias os que são atacados por elas?

Fatalmente recorrerão aos soníferos, agentes artificiais do sono. Mas não pode uma pessoa tomar um, dois ou mais comprimidos todas as noites antes de dormir, pode criar uma dependência perigosa.

Então, como resolvem a insônia as vítimas dela? E, se há assim tantas vítimas de insônia espalhadas pelo mundo, por certo haverá já setores da medicina ocupados exclusivamente com doentes de insônia.

Raciocino assim, voltando ao que pensei antes, que não são as preocupações que levam à insônia. Acontece o seguinte: não podendo dormir, os insones em sua vigília anormal mergulham nas preocupações.

As pessoas normais vão para a cama absortas em preocupações, nem por isso deixam de dormir, até mesmo para fugir delas.

Os insones é que, impossibilitados de dormir, não têm outra coisa que fazer que não seja preocupar-se.

Não fosse assim, os que têm outras doenças, os endividados, os presidiários, os mal-amados, os gremistas, não dormiriam.

E, no entanto, todos dormem. Só não dormem os insones, embora tenham sono.

Como sei, pelos e-mails que recebo, que muitos leitores meus padecem de insônia, quero daqui enviar-lhes o meu respeito e minha solidariedade.

Pode ser que esta coluna por alguma forma os ajude a dormir nalguma noite.

O presidente do Grêmio, Duda Kroeff, após o jogo de anteontem, deu entrevista em que cometeu injúria contra mim.

Considero que a única forma de desagravar-me é pedir desculpas públicas pelo que disse, pois critiquei-o duas ou três vezes de modo civilizado e alto.

Como ele tem a aparência de que não pedirá desculpas, estará cavado um escuro abismo entre nós.

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