sábado, 21 de novembro de 2009



22 de novembro de 2009 | N° 16163
PAULO SANT’ANA


O apagão

Até agora não foram esclarecidas as causas do apagão da semana retrasada, que deixou às escuras 18 Estados brasileiros.

Visivelmente, as autoridades não mostram convicção de que tenha havido um somatório de vento forte, chuva e descargas elétricas que tenham causado um curto-circuito nas linhas de transmissão de Itaipu.

O ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, já pediu um relatório à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que deverá constar de uma “análise profunda” das causas do blecaute.

Uma vez pronto o relatório, para ainda mais legitimá-lo, o governo pretende submetê-lo a especialistas de universidades de Rio e São Paulo.

Há críticas ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) por ter permitido que a Usina de Itaipu abastecesse praticamente sozinha a maior parte do consumo de todo o país.

No entanto, o governo insiste na tese de que o apagão se deveu a fatores climáticos.

A impressão é de que não há convicção sobre a origem do blecaute e que as investigações não vão solucionar as dúvidas.

Já era tempo de ter sido produzido um diagnóstico seguro e definitivo sobre as causas, mas o Ministério de Minas e Energia tropeça em dúvidas e indecisões.

Fica portanto no ar a hipótese de que possa no futuro vir a ocorrer um novo apagão com as consequências graves e amplas desse último, que aturdiu o país.

São cinco as linhas de transmissão da energia de Itaipu. O normal é que haja problemas em uma ou duas delas, mas nesse apagão ocorreu um colapso no conjunto de linhas, um fato raro, que no entanto não tem cabido nas explicações governamentais.

Este assunto é fechado à compreensão do público em geral, somente os especialistas se debruçam sobre ele. No entanto, as divergências entre eles demonstram que a linha de investigação sobre as causas se revela perturbada e inconvicta.

Como é que é? Pode ter apagão no futuro ou não? O grupo de trabalho que analisa a origem do blecaute, composto pela Aneel e pelo ONS, tem 30 dias, a partir da última segunda-feira, dia 16, para apresentar os relatórios sobre as causas do apagão.

Mas fontes do setor elétrico afirmam que esse prazo é muito longo e não passa de uma forma de esvaziar o debate, eis que em seguida virão o Natal e o Ano-Novo e o assunto ficará escondido no noticiário.

Interessante é que o ministro Edison Lobão declarou que o apagão terá análise “às claras”.

Melhor que seja.

Como brasileiro, no entanto, me preocupo com essa análise. É um assunto de extrema gravidade, vital para a vida nacional e transcendental para a economia.

Se um tal sistema de transmissão de linhas for precário, as medidas para aperfeiçoá-lo deveriam ser tomadas antes de um novo colapso.

E, se for precário o sistema, tudo indica que os investimentos para corrigi-lo serão de alta monta, bilionários.

Ao mesmo tempo, um sistema de transmissões que seja frágil e nevrálgico apenas à intempérie causa enorme preocupação.

Parece claro que a população brasileira tem o direito de saber detalhadamente o que sucedeu, além de se munir da garantia de que não mais acontecerá.

E as trevas dos relatórios e dos diagnósticos, além das explicações oficiais, têm-se mostrado até agora mais escuras que o próprio apagão.

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