sexta-feira, 27 de novembro de 2009


Jaime Cimenti

A esperança vencendo a adversidade

Feia - A história real de uma infância sem amor é o pungente relato da vida da inglesa Constance Briscoe, advogada e, desde 1996, juíza. Foi uma das primeiras mulheres negras a presidir a sessão de um tribunal no Reino Unido.

Atualmente, Constance vive em Clapham com seu marido, Tony Arlidge, e os filhos Martin e Francesca e é membro do Conselho da Rainha. Em sua autobiografia a autora conta como sobreviveu a doze anos de maus tratos de uma mãe absurdamente cruel, que lhe chamava de feia, muito feia e a acusava de ser um “horrível desperdício de espaço”.

De simples puxões de cabelo e xingamentos a chutes na barriga, socos na cara e queimaduras com ponta de cigarro e ferro quente, a autora, que só soube de seu verdadeiro nome, Clare, ao formar-se no colégio, aguentou por mais de uma década a convivência com a perturbada mãe, que, ainda por cima, tratava bem os outros filhos.

Clare sofria de enurese noturna (distúrbio em que a criança faz xixi durante a noite) e teve de fazer uma cirurgia nos seios para retirar caroços que surgiram em decorrência dos espancamentos. No fim, ela ficou abandonada em uma casa antiga, sem luz, água e comida.

O relato mostra a força incrível de uma mulher que se tornou uma das pessoas mais respeitadas de seu país, apesar dos maus tratos a que foi submetida nos anos de sua infância.

As humilhações, a fome, a solidão, os espancamentos diários, a ausência do pai e a omissão das irmãs não conseguiram impedir que Clare-Constance trabalhasse desde os doze anos, cursasse a faculdade e se tornasse uma das juízas mais importantes do Reino Unido. Sua história de vida e de fenomenal superação vendeu, não por acaso, mais de meio milhão de exemplares em todo mundo.

Carmen, a mãe tirana de Constance, processou a filha por difamação. O júri, todavia, reconheceu a veracidade do relato de Constance, comprovado por cicatrizes, testemunhos e relatos médicos.

Durante o julgamento Constance disse que decidira escrever a sua história como exemplo de superação das adversidades e porque sua mãe não merecia o seu silêncio.

A obra é um belo e emocionante testemunho da profunda esperança vencendo grandes adversidades. É um depoimento profundamente angustiante, perturbador, mas, no final das contas, muito inspirador.

É o que importa - e é muito. 364 páginas, R$ 43,00, tradução de Caetano Waldrigues Galindo, Editora Bertrand Brasil, telefone 21-2585-2070.

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