Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
terça-feira, 10 de novembro de 2009
10 de novembro de 2009 | N° 16151
LUÍS AUGUSTO FISCHER
Filho de quem?
Ainda não me saiu da cabeça e do coração uma cena que se passou no último dia da Jornada de Literatura de Passo Fundo, evento mais uma vez superbem-sucedido, mesmo que ocorrido sob temperatura exasperante.
Ocorreu, a cena, no Seminário de Escritores Gaúchos; era a sexta-feira, e na mesa estavam, além deste coordenador dos trabalhos, quatro figuras de grande interesse: Altair Martins, Lourenço Cazarré, Tabajara Ruas e Tau Golin; o tema era memória, o que fazer com ela.
Estimulados a contar um pouco de suas vidas, os quatro escritores visitaram rapidamente seu passado, relatando alguma coisa de significativo. E os quatro acabaram mencionando as profissões de seus pais e avôs.
O pai do Altair foi jóquei, falecido muito jovem; o pai do Cazarré era comerciário, mas o pai dele, avô do escritor, foi nada menos que cabo columbófilo da Brigada Militar, o cabo especializado em treinar pombos-correio; o pai do Tabajara Ruas foi prático de navegação do Rio Uruguai; e o pai do Tau Golin foi operário de frigorífico e jogador de futebol. Quando se completou o circuito desse depoimento, um frisson de solidariedade uniu a plateia e a mesa.
Não chegamos a desenvolver muito o debate e a reflexão sobre essa curiosa e significativa relação de profissões, todas elas ao mesmo tempo humildes e raras, e três delas (todas menos a do pai do Tau) antigas historicamente, porque ligadas a um saber feito de habilidades sutis, sem relação com a lógica mais imediata do mercado.
(Eu poderia ter acrescentado as profissões de meus dois avôs, o paterno um alfaiate, o materno um humilde funcionário de fábrica de conservas, mas não cheguei a fazê-lo.) Poderíamos ter ido longe na consideração sobre essas circunstâncias, que dão um eloquente depoimento sobre o nosso tempo e a nossa literatura, sobre ascensão social e conquista da cultura letrada.
O seguinte: os nossos quatro depoentes, todos com obra reconhecida e de valor, participam da primeira geração de gente com formação superior e, mais ainda, com trato letrado sofisticado, em suas linhagens familiares; nenhum deles provêm das antigas famílias proprietárias (ou com dinheiro, ou já decaídas, mas com experiência social na parte de cima da escala social), que cem anos atrás viram nascer ainda uma geração de escritores e artistas.
Poderíamos avançar em terreno mais profundo: os quatro escrevem ficção e história, às vezes ficção histórica, quer dizer, os quatro são intérpretes da vida e da sociedade, e com isso não apenas tomaram o bastão das gerações anteriores como também agora legam toda uma visão das coisas para seus leitores, para o futuro. Terminou o espaço e ainda há tanto a falar sobre isso. Diga lá, leitor.
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