quarta-feira, 11 de novembro de 2009



1 de novembro de 2009 | N° 16152
CLÁUDIA TAJES

Os culpados
O técnico Paulo Autuori não entende a razão de o Grêmio perder tanto fora de casa. Mas eu, humildemente, encontrei a resposta.

A culpa é da minha família.

Durante 2009, meu filho, meu sobrinho, meu irmão e eu não faltamos aos jogos do nosso time em Porto Alegre. No calor de torrar a grama ou no frio de congelar a bola, sem esquecer das tempestades tropicais e glaciais, nós estávamos lá.

Seguindo sempre o mesmo ritual campeão: antes de entrar, um sanduíche Entrevero, que, conta-se com orgulho, contém tudo e mais os testículos que algum zagueiro perde, de vez em quando, em uma trombada na pequena área. Dentro do estádio, sentamos sempre na mesma formação, jamais falamos certas palavras, abanamos quando o Lucianinho passa e comemoramos cada gol com um grito tribal.

A tática tem sido vitoriosa, como se vê pelo retrospecto no Olímpico. E, a comprovar essa tese, existem os fatos: nas quatro vezes em que um de nós não foi, e isso por motivo de doença, o Grêmio só empatou. Logo, é evidente: o Grêmio não ganha fora porque a minha família não teve dinheiro para viajar atrás do time, levando sorte e repetindo pelo país a receita que funciona em casa.

Claro que não somos os únicos torcedores a decidir o destino de um time. Sempre que um amigo colorado trabalha em dia de Gre-Nal, como ocorreu uma única vez neste ano, o Inter perde.
Outro colorado que conheço usa a mesma cueca, que não pode ser lavada nunca, desde o tricampeonato invicto de 1979. Se uma amiga rubro-negra liga o radinho, o adversário faz um gol no Flamengo. A solução, óbvia, foi quebrar o rádio.

Por essas e outras, meus parentes e eu continuaremos fazendo a nossa parte no Olímpico. Na improvável eventualidade de o Brad Pitt me chamar para sair em dia de jogo aqui, não poderei aceitar.

Se receber um convite para a assinatura de um contrato milionário, um show imperdível ou uma viagem com tudo pago, confirmo minha ausência desde já.

Pelo menos, em 2010, nossas noites de quarta estarão liberadas, já que o Grêmio não vai passar nem perto da Libertadores. Estranho é que, longe de trazer qualquer alegria, essa súbita liberdade causa é um aperto no peito de uma família tricolor. E no de milhões e milhões de torcedores gremistas.

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