Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
domingo, 15 de novembro de 2009
DANUZA LEÃO
Que semana
Sem TV, sem poder ler jornal, sem ter com quem falar, só tive uma coisa para fazer: pensar. Sabe que é bom?
A SEMANA foi agitada: houve a expulsão de Geisy por usar minissaia -minissaia, aliás, lançada por Mary Quant nos anos 60-, a "desexpulsão", depois o protesto de colegas da UnB que a apoiaram e que, nus, foram entregar uma carta ao reitor da universidade (e eu pagava para ver a cara do reitor).
Além disso, chegou Madonna, o que é sempre um acontecimento, não se sabe bem por que, e que passou duas horas no hotel Fasano com a mãe de Jesus, provavelmente pedindo sua mão em casamento.
E para completar, tivemos o apagão. Como não estou em fase política, vou fingir que acreditei em tudo o que disse o grande especialista em energia Edison Lobão, indicado ministro por Sarney para que o PMDB apóie o PT, que assim terá mais tempo no horário político da TV, deu para entender?
Na quinta à tarde, o ministro disse, com voz firme, que o assunto está encerrado; que maravilha. É claro que foram a chuva, os ventos e alguns raios os responsáveis pelo apagão, mesmo tendo chovido tão pouco em Itaberá; tão pouco que as luzes da cidade nem se apagaram, segundo o prefeito e os habitantes locais. Quanto a raios, nem unzinho. A culpa então foi de quem? Dos inimigos do PT e da imprensa, naturalmente.
A pergunta que mais se fez foi "onde você estava na hora do apagão?". Eu estava em casa, e como não costumo ter velas na gaveta, fiquei numa escuridão/solidão total, e morta de calor; foi uma das noites mais quentes do ano.
Celulares, nada; tentei ligar do fixo, mas não conseguia ver os números, então abri a tampinha do celular e com aquela luzinha fraca digitei o número, mas qual: tudo mudo. E percebi o quanto somos dependentes de toda essa parafernália eletrônica.
Da luz, em primeiro lugar, e de todo o resto, em segundo. Quem me salvou dessa noite de trevas foram meus dois gatinhos, que não saíram de perto de mim um só minuto. E sem televisão, sem poder ler um jornal, sem ter com quem falar, só tive uma coisa para fazer: pensar. Sabe que é bom?
Nunca se tem tempo para essa coisa fundamental: pensar. Pensei em tudo o que a gente acaba negligenciando, sobretudo nossos afetos. Mas como os sentimentos não sobrevivem sem uma certa atenção, um dia se começa a achar que o coração não consegue -e nunca mais vai conseguir- gostar ou ao menos sofrer por alguém.
Mas o tempo passa, aquele amigo de quem se gostava tanto viaja, e um belo dia você sente saudades dele. Há quanto tempo isso não te acontecia? Ter saudades quer dizer que seu coração está vivo, e esse fato é mais merecedor de uma comemoração do que qualquer data querida.
Um amigo é uma coisa muito boa, e se ele for daqueles que não te patrulham, não te invejam, não te analisam nem discutem a relação, é bom demais. Um amigo que te aceita do jeito que você é, não faz perguntas indiscretas, te entende pelo olhar, e não é, jamais, invasivo. Um amigo que nunca pergunta "em que você está pensando?", que é leve, que tem o hábito saudável de não se aprofundar sobre nenhum assunto -só a pedidos.
Se estiver tomando um banho de mar, ele não vai contar o quanto o mar o influenciou para ser quem é, como são boas as coisas simples da vida: uma rede, um camarãozinho frito e uma cerveja gelada -e daí para o divã é um pulo. Um amigo leve apenas usufrui a vida, e quem tiver a sorte de tê-lo a seu lado vai ter momentos de grande felicidade.
E se você se distrair e voltar a falar no apagão, ele te dá a solução: ter sempre, na mesa de cabeceira, uma caixa de remédio para dormir -tarja preta.
danuza.leao@uol.com.br
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