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terça-feira, 17 de novembro de 2009
17 de novembro de 2009 | N° 16158
PAULO SANT’ANA
Só acontece comigo!
Quando falei que estava tonto, estupidamente imaginei que a tontura fosse um mal que só a mim atingia. Nós sempre somos assim, tudo de ruim que acontece conosco, achamos que é só conosco.
Por exemplo, quando o terrorista turco baleou o papa João Paulo II, Karol Wojtyla, este exclamou: “Deus, por que logo comigo”.
Quando Maurício Sirotsky constatou que tinha câncer na parótida, exclamou: “Por que foi acontecer justamente comigo?”.
E quando eu entortei literalmente o meu rosto, parecendo um Frankenstein, após uma cirurgia no ouvido, mais de 30 anos atrás, chorei que aquela tragédia da paralisia facial foi acontecer logo comigo.
De modo megalomaníaco, achava que só eu tinha ficado com os olhos arregalados e a boca torta.
Nada disso, os desastres ocorrem com milhões de pessoas. Entre elas, nós.
Pois agora estou tonto, escrevi isso esses dias. E não é que topei agora, por gentileza de Clóvis Malta, com um poema de Fernando Pessoa, sob o heterônimo de Álvaro de Campos, com o título de “Estou tonto?”. E o grande poeta descrevendo exatamente a tontura que tenho!
E o pior desta maldita tontura que é uma doença exclusivamente minha e as pessoas com quem me encontro e converso não sabem que estou tonto, o que impõe o dever de tratá-las com cordialidade, que não possuo em face da penosa atrapalhação de náusea que me agride vertiginosamente.
Mas saibam todos que se aproximarem de mim que eu e Fernando Pessoa estamos tontos.
Nunca pensei que fosse ofensa chamar um restaurante de caro. Pois chamei o Restaurante Pampulhinha de caro e acabei levando uma carraspana severa e quase deselegante da responsável pelo restaurante.
Quando escrevi que havia dois restaurantes caros em Porto Alegre, o Pampulhinha e o Koh Pee Pee, imaginei estar fazendo um elogio: para mim, o adjetivo caro para restaurante traz consigo o conceito de ótimo. Se é caro, é bom, todos pensam assim. E todos, não sempre, mas de vez em quando, vão dar uma espiadinha no restaurante caro.
Aí, levei uma espinafrada do Pampulhinha.
Bem feito para mim, quem mandou ter a intenção de elogiar?
Mas reafirmo categoricamente o que disse, os dois restaurantes citados são os mais caros da cidade, embora sejam excelentes.
A mim me doem no bolso.
Mas mando um beijo na carequinha simpática do Jaime, o dono do Pampulhinha.
Aqui vai a defesa do Pampulhinha: “Caro Sr. Paulo Sant’Ana. Venho por meio deste e-mail pedir alguma satisfação sobre a coluna escrita ontem, dia 5 de novembro de 2009, quinta-feira.
Ficamos aqui todos surpresos com a contradição e falta de clareza dos fatos citados na mesma, pois o senhor nos relata os serviços da cidade, considerando o Tuim o melhor chope da cidade e que já tiveram os melhores bolinhos de bacalhau e ainda hoje(??) (não ficou claro), mas o que mais nos surpreendeu foi nos citar como um dos dois mais caros restaurantes, sendo que não falou qual era o outro(???).
Achamos uma comparação sem sentido e fora de questão para um cliente como o senhor, Paulo Sant’Ana, que aqui sempre é bem recebido, como todos os clientes que nos visitam. Nossos bolinhos custam R$ 5 e são de um tamanho bastante grande em comparação a muitas porções servidas por aí. Será que não está havendo algum engano em sua citação?
As críticas são sempre bem-vindas quando são sensatas!!! Obrigada, (as.) Cristina Pinheiro (crispinhheiro@hotmail.com)”.
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