sábado, 14 de novembro de 2009



14 de novembro de 2009 | N° 16155
NILSON SOUZA


Páginas da vida

Zuca e Pedro estiveram na Feira do Livro em dias diferentes, mas com o mesmo objetivo: autografar suas obras.

Zuca saiu de São Sebastião do Caí com uma bolsa cheia de livros, edições do autor, custeadas com seus ganhos de consultor de vendas, primeiro trabalho do escritor iniciante de um texto centrado no combate à corrupção. Passou uma hora sentado sozinho na Praça de Autógrafos, uma espécie de multipalco das celebridades do livro. Vendeu um livro e assinou um autógrafo.

Pedro desembarcou na Feira do olimpo de campeão de vendas no país. Em 36 anos de ofício, 70 obras publicadas, mais de 21 milhões de exemplares vendidos e a glória suprema de atingir o coração de crianças e adolescentes. O autor de A Droga da Obediência já tem livro transformado em filme e reconhecimento internacional. Sua sessão de autógrafos provocou filas de pequenos leitores inquietos e de mães embevecidas.

Zuca e Pedro, como este cronista sabático e incontáveis escribas, usam as letras como tijolos para dar forma concreta a suas ideias e a seus sonhos. O livro é uma espécie de casa própria construída com as próprias mãos. Só para de pé se os alicerces estiverem bem plantados, se as paredes forem sólidas e se o telhado resistir às intempéries. E, principalmente, se for edificada com matéria-prima de qualidade.

A morada de páginas pode ser a casa de Zuca, frequentada apenas por ele mesmo ou por algum extraviado que aparece para pedir um copo d’água. Pode ser também a cidade de Pedro, visitada por multidões. Ambas, porém, são amadas por seus proprietários, porque contêm as páginas de suas vidas.

Zuca, o anônimo autor de Pela Decência da Política, é Luiz Augusto Flores, que passou sozinho a sua sessão de autógrafos no primeiro dia desta semana. Pedro carrega no sobrenome uma Bandeira de sucessos literários.

Os dois são personagens inesquecíveis desta obra aberta chamada Feira do Livro de Porto Alegre, que continua atraindo leitores viciados e curiosos ao centro da Capital.

Zuca tenta consertar o estrago moral e cultural do país com uma pregação ética dirigida a adultos. Pedro opera no mesmo sentido, mas sua missão talvez seja mais decisiva: ele lida com mentes infantis e adolescentes. Seus livros também abordam o contraste honestidade/desonestidade, em ritmo de aventura, de modo a fazer sentido para leitores em formação.

Bendita e democrática Feira, que oferece o mesmo palco para atores tão diferentes e revela que eles lutam pela mesma causa com a mais civilizada das armas: a palavra.

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