segunda-feira, 30 de novembro de 2009


RUY CASTRO

Cego e a qualquer custo

RIO DE JANEIRO - Certa noite, há dois ou três anos, em Paraty, faltou luz em plena Flip. Por alguns segundos, ninguém enxergava ninguém na rua. Mas a literatura está habituada a se virar nas trevas, e o pessoal não se apertou. Milhares acenderam seus celulares e, para quem via de longe a cena, pareciam chusmas de vaga-lumes no breu.

Além disso, nesses românticos burgos, meio praianos, meio rurais, o brilho das estrelas dispensa a luz da Light, ainda mais em julho. Namoros e sabe-se lá quantos flertes brotaram daquela noite.

No Rio, com os apagões à luz do dia, em horário comercial e a 35 graus de temperatura, as chances de romantismo são poucas. Os donos dos botequins descabelam-se ao perder seus estoques, as sorveterias precisam liquidar o sorvete antes que ele derreta e os quiosques são obrigados a vender coco quente. Um cabeleireiro teve de terminar na calçada a barba de seu cliente e meu dentista foi interrompido com a broca dentro do canal de uma antiga super-estrela da TV.

O modelo econômico implantado há alguns anos no país permite que qualquer família, mesmo com salário, habitação, saúde, transporte e educação nota 3, tenha em casa micro-ondas, laptop, TV a cabo, ar condicionado, freezer, amplificador, sub-woofer, caixas de som, enceradeira, liquidificador, batedeira de bolo etc. Isso é ótimo, e eu também me beneficio. Mas tem um custo.

O custo é a energia que, para acompanhar essa avalanche consumista, precisa ser produzida em escala cada vez maior. Estará sendo? Algo parecido se dá com a indústria automobilística: com tanta facilidade para se comprar um carro, a frota nas ruas duplicou sem que nossas pobres cidades estivessem preparadas para absorvê-la.
Pelo visto, voltamos aos tempos do "desenvolvimento" cego e a qualquer custo.

Uma linda segunda-feira.... uma gostosa semana pra você.

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