Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
3 de novembro de 2009 | N° 16154
DAVID COIMBRA
Música congelada
Aarquitetura pode ser uma fonte de dor. Goethe disse que arquitetura é música congelada, e é mesmo. Harmonia. Ritmo. É o que a arquitetura haveria de ter sempre. Mas tantas vezes, no Brasil, não tem. O maior exemplo negativo vem da maior realização do maior arquiteto brasileiro.
Brasília.
Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, os autores de Brasília, eles são como certos jazzistas e escritores virtuosos. São dotados de tamanha mestria que se esquecem, os jazzistas, que alguém está ouvindo o que eles tocam, e se esquecem, os escritores, que alguém tentará ler o que escrevem. Niemeyer e Costa esqueceram-se que pessoas viveriam em Brasília.
Então, Brasília, a sensação que Brasília produz é o desamparo. Aquela vastidão desumana. Aqueles espaços inacessíveis. Brasília não foi projetada para ser habitada por gente, não existe para quem usa as próprias pernas para se deslocar. Foi projetada, por fora, para ser bonita, e, por dentro, para ser percorrida pelo automóvel.
Brasília é a anti-Paris. Paris, com seus bulevares e suas praças, estimula a convivência entre os seres humanos, o diálogo, os encontros, os passeios, o lazer, a vida ao ar livre. Brasília e sua imensidão asséptica é voltada para dentro, é toda distâncias, é um mero cartão-postal no qual só se veem edificações erguidas pelo homem, nunca o homem. Em Paris, se você quer viver na cidade, tem que caminhar pela cidade. Em Brasília, você pode viver uma vida sem colocar o pé na ranhura da calçada.
O urbanismo desolador de Brasília me convenceu que estava errado a respeito dos políticos brasileiros. Não concordava com as generalizações que relacionam os políticos à desonestidade. Argumentava que não existe uma árvore de político em Brasília, que eles são egressos do povo que os elege, que são médicos, jornalistas, operários, empresários, que eles somos nós. Que eles representam quase com exatidão o que há de bom e de ruim na sociedade.
Enganei-me.
Os políticos, quando vão para Brasília, se transformam. A cidade os isola. Eles perdem o contato com quem não convive no meio político. Só se relacionam entre eles e com lobistas, jornalistas e assessores.
Protegidos do mundo por essa bolha, os políticos constroem o seu próprio mundo, com seus próprios valores. Por isso, a desfaçatez do Congresso, inédita até na história de desfaçatez do Brasil. Por isso a indiferença olímpica de deputados e senadores ao sentimento da população. Culpa da arquitetura monstruosa de Brasília. Dos gênios impessoais de Niemeyer e Lúcio Costa.
Um exemplo arrabaldino de urbanismo fracassado é a atual edição da Feira do Livro. Uma cidade é bem-sucedida como cidade quando projetada para as pessoas. A Feira do Livro era bem-sucedida quando projetada para o seu objeto, o livro, e para suas estrelas, os autores locais.
A Feira do Livro de Porto Alegre alijou o livro e os autores, baniu-os para a periferia. Onde está o centro da Feira do Livro? Onde as pessoas se encontram? O pavilhão dos autógrafos está nos fundos, o bar em algum lugar inóspito. A Feira tornou-se impessoal como a arquitetura de Niemeyer. A Feira é uma desgraça arquitetônica. É o ruído congelado.
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