terça-feira, 24 de novembro de 2009



24 de novembro de 2009 | N° 16165
MOACYR SCLIAR


O jogo do fanatismo, o jogo da paz

A entrevista que o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, deu a Tulio Milman (o brilhante editor da página 3) é um modelo de sobriedade e de bom senso, e contrasta com as declarações de Ahmadinejad negando o Holocausto.

Uma cantilena que o líder iraniano provavelmente não repetirá no Brasil. Sabe que aqui esta retórica, à qual não falta inclusive uma conotação neonazista, será muito mal recebida. Na verdade, até já está modificando a linguagem; numa entrevista recente admitiu que o Holocausto “talvez” tenha acontecido. Absurdo e má-fé.

Não pode haver qualquer dúvida quanto ao genocídio nazista: o assassinato de milhões de pessoas foi exaustivamente comprovado. No Brasil, não faltam inclusive testemunhos pessoais de sobreviventes. Além disso, é importante assinalar que o Holocausto matou principalmente judeus, mas não só judeus. Etnias como os ciganos, adversários do nazismo, minorias sexuais, membros de várias religiões e doentes mentais tiveram o mesmo fim. Será que o mandatário iraniano nega isso também?

O raciocínio de Ahmadinejad é muito simples – simplório, até. Parte da ideia de que o Estado de Israel foi criado por causa do Holocausto. Ora, como não houve Holocausto (sic), não deveria haver Estado de Israel, que portanto precisa ser “varrido do mapa”.

Tola como é, esta retórica tem, contudo, uma finalidade concreta: Ahmadinejad quer mostrar aos aitaolás que é um fundamentalista convicto, daqueles que não hesitam em negar a realidade em nome do fanatismo. É uma jogada, sinistra jogada mas jogada, um discurso para fins internos, e por isso creio que não será recitado no Brasil.

Lula tem um passado de luta pela justiça social, e isto sempre incluiu a rejeição de ideias nazistas e neonazistas. Bem que ele podia dar um discreto puxão de orelhas no líder iraniano. Talvez isso melhore a audição desse senhor. E sua lucidez.

Quando comecei a trabalhar em saúde pública, um de nossos maiores problemas era a desnutrição, que se manifestava em déficit de peso, sobretudo nas crianças, e em déficit de altura (por isso os nordestinos eram baixinhos). Agora, a pesquisa Saúde Brasil 2008 mostra a mudança verdadeiramente dramática que ocorreu nesta área. Em 1996, a desnutrição afetava 13,4% das crianças com menos de cinco anos. Dez anos depois, esta porcentagem caiu a menos da metade (6,7%).

O déficit de altura reduziu-se em 75% neste grupo. Claro, desnutrição ainda existe e afeta muita gente, mas 43,3% dos adultos nas capitais brasileiras estão acima do peso. O que também traz problemas: aumenta a prevalência de diabete e de óbitos ligados a essa doença.

Conclusão: o Brasil mudou. Mudou para melhor, mas, como sempre acontece nessas situações, tal mudança não se fez sem um preço.

Contudo, nada impede que os programas de saúde agora coloquem ênfase na dieta racional e no exercício físico. Obesidade Zero, deve ser agora o nosso lema. Frutas e verduras em vez de salgadinhos e alimentos gordurosos, calóricos. Dá para chegar lá.

Ainda falando em Oriente Médio: Lula está propondo, para março de 2010, uma partida de futebol entre o Brasil e uma seleção israelense-palestina.

Em termos de esporte, certamente o jogo não será o bicho, mas em matéria de caminho da paz é uma boa proposta. Não esqueçam que a briga entre os Estados Unidos e a China praticamente terminou com uma partida de tênis de mesa entre jogadores dos dois países.

Ótima terça-feira ainda que com chuva. Que haja muto sol dentro de você.

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