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sábado, 28 de novembro de 2009
Alongar quanto, e para quê?
Ser muito flexível não significa ser mais saudável
Francine Lima
Uma vez fui experimentar uma nova aula de ioga e acabei arrumando uma briga com o professor. Eu era novata ali, mas não exatamente inexperiente na modalidade. Já estava razoavelmente acostumada a seguir as cuidadosas instruções dos professores, quase sempre suaves e tranquilos, e por isso estranhei quando ele mandou sentar com as pernas posicionadas de um jeito estranho (estranho para mim, pelo menos) e encostar o ombro no joelho.
“Professor, não entendi. Qual é o objetivo desse movimento? Não estou sentindo alongar nada.” Por algum motivo, ele não gostou da pergunta, se indispôs comigo e acabou não me tirando a dúvida. A briga depois foi resolvida e perdoada, mas a explicação do movimento eu nunca recebi.
Fazer exercício de alongamento sem saber o que precisa ser alongado não faz sentido. A coisa mais importante nesse tipo de atividade é justamente a atenção que se deve dar a cada parte do corpo. Se o objetivo de um movimento é, por exemplo, alongar a musculatura posterior da coxa, por que o professor diria que o aluno deve procurar encostar os dedos das mãos na ponta dos pés?
Por que focar nas mãos e nos pés se a intenção é trabalhar a coxa? Essa forma de aula era comum há alguns anos, mas hoje os profissionais mais atualizados ensinam alongamento de outro jeito.
Para começar, o meu alongamento não deve ser igual ao seu. O meu corpo tem um tamanho, um formato e uma organização articular únicos, frutos do meu histórico esportivo, da minha postura no dia a dia, da minha genética e sabe-se lá do que mais.
Minha musculatura tem um certo tônus, resultante da musculação e das minhas tensões. Tenho boa flexibilidade nos braços e nas pernas, mas meu pescoço às vezes precisa de cuidados especiais. Meu joelho direito ainda dói e o médico mandou alongar o trato iliotibial, o que eu achei bem difícil.
Quero manter minha coluna flexível, com facilidade para torções, mas não tenho a menor pretensão de virar contorcionista. É tudo isso e mais um pouco que a minha rotina de alongamento deve levar em consideração.
Segundo a professora Adriana Ramos Schierz, ou Drika, que é fisioterapeuta e dá aulas de alongamento postural na Competition, eu não preciso necessariamente encostar as mãos nos pés para conseguir a flexibilidade de que eu preciso na parte posterior das coxas.
O importante naquele movimento, diz ela, é sentar em cima dos ísquios (os ossos da parte baixa do quadril), espichar a coluna inteira (até o pescoço), abrir o peito (afastar os ombros das orelhas e um do outro) e buscar uma aproximação do peito com a parte de cima da coxa.
Buscar. Com essa postura, eu sentirei o músculo certo esticando. Pouco importa se eu não deitei o tronco em cima das pernas e se pareceu aos olhos alheios que nem me mexi.
O objetivo de alongar aquela parte da coxa terá sido cumprido. O que não tem o menor propósito é sentar com a coluna curvada e o pescoço torto, encostar as mãos nos pés com os joelhos flexionados, sentir dor na lombar e gerar tensões desnecessárias. Alongar errado é errado justamente porque, em vez de relaxar, tensiona.
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