quinta-feira, 26 de novembro de 2009



26 de novembro de 2009 | N° 16167
L. F. VERISSIMO


Bom comportamento

O governo Lula pode parafrasear o Chico Buarque e cantar para a Oposição “Você não gosta de mim, mas The Economist gosta”. Há no reconhecimento da revista um desagravo retroativo ao PT recém-eleito, que assustava com a promessa implícita de mudar tudo na economia, correr com o neoliberalismo, desprivatizar o que tinha sido privatizado e confiscar a prataria.

Os 800 mil empresários que, segundo uma previsão da época, fugiriam deste caos hoje devem estar se congratulando por terem esperado um pouquinho. O monstro não era um monstro, afinal. O monstro tinha a cara do Palocci e era social-democrata como todo o mundo. O Brasil não só não afundou, como, segundo a imprensa internacional, foi quem melhor soube boiar, na crise.

Mas aprovação da Economist é, um pouco, como abraço do Ahmadinejad.

Pode ser conveniente e bom para a reputação ou constrangedor e estigmatizante, dependendo dos círculos em que se anda. Você tanto pode achar formidável um governo do PT ser elogiado como um exemplo de conservadorismo responsável quanto achar estranho um governo do PT, logo do PT, ser chamado por uma das principais publicações do capitalismo mundial de exemplo de conservadorismo responsável.

Em certos círculos do PT, a pergunta que está sendo feita deve ser: o que foi que nós fizemos de errado para merecer tamanha honra? É como receber um 10 por bom comportamento quando a reputação que se quer é a de bagunceiro. Imagino que tenha gente pensando em processar The Economist pela reportagem difamante.

Na capa da Economist com o título “Brazil takes off” (o Brasil decola), o Cristo Redentor aparece subindo como um foguete para alturas ainda incalculáveis, um símbolo da nova realidade no país.

No filme 2012, o Cristo aparece desmoronando, no fim do mundo. De acordo com o filme e com as profecias, o Brasil só terá dois anos para aproveitar sua boa fortuna. Ao menos um alento para a oposição.

PS

Post-scriptum. Nunca se soube muito bem quem era o pai que não gostava do Chico, mas a filha gostava. O próprio Chico negou que fosse o presidente Geisel, cuja filha era fã do cantor.

Segundo outra história, ao ser preso durante a ditadura, o Chico teve que distribuir autógrafos para as filhas dos agentes que o acompanhavam – ainda no elevador.

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