terça-feira, 24 de novembro de 2009


CARLOS HEITOR CONY

Já vimos este filme

RIO DE JANEIRO - Tal como na televisão, as novelas da vida real são recorrentes, repetem-se com frequência mudando apenas alguns pormenores irrelevantes. O chassi é sempre o mesmo.

O pedido de extradição do italiano Cesare Battisti transformou-se num novelão que ainda não chegou a seu final. A mais alta corte de Justiça do país passou o abacaxi para o presidente Lula decidir e até agora sua excelência não decidiu.

Sabe-se que Lula é amigo do peito de todos os chefes de governo em exercício, inclusive de Berlusconi, com quem recentemente trocou afagos e palmadinhas nas costas.

Isso não chega a ser uma suspeição, a relação pessoal entre os dois presidentes pode ser boa, mas sem influir na decisão final.

Contudo, gostaria de lembrar um caso parecido, quando, nos anos 70, três países, Alemanha, Polônia e Israel, pediram a extradição do criminoso de guerra Gustav Wagner, que havia anos morava no Brasil.

A folha corrida do criminoso era horripilante. Em Sobibor, campo de concentração do qual era diretor, ele apanhava as criancinhas no colo das mães e as espatifava num poste da estação ferroviária. Era um monstro, com mãos enormes e disformes. Romeu Tuma, que o prendera, deixou que eu o entrevistasse, fiquei sem dormir algumas noites.

Pois o governo brasileiro, pressionado pelos países árabes que dominavam então o preço do petróleo, por meio da Opep, negou a extradição e Wagner veio a morrer, anos depois, na santa paz dos justos, aqui mesmo no Brasil, onde nunca foi molestado.

Isso mostra que os casos policiais em nível internacional transformam-se em casos políticos, que são resolvidos em termos políticos, a Justiça, o bom-senso sendo substituídos por interesses momentâneos e até mesmo pessoais das autoridades envolvidas.

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