domingo, 29 de novembro de 2009


ELIANE CANTANHÊDE

Menino do MEP

BRASÍLIA - César Benjamin abriu uma guerra de muita paixão e pouca objetividade entre o seu texto na Folha, "Os Filhos do Brasil", e o filme "O Filho do Brasil". Com narrativa serena, mas conteúdo dramático e chocante, Benjamin desvia o foco da corrupção para uma seara muito mais pantanosa da política: o caráter dos governantes.
O que interessa aqui não é acatar ou rejeitar Benjamin e o que ele relata, mas analisar os efeitos no debate político.

O confronto entre filme e texto, que remete a uma suposta tentativa de Lula de subjugar sexualmente um jovem ("o menino do MEP") na cadeia, acirra ao máximo o maniqueísmo do endeusamento ou da demonização de Lula.

Intelectuais refratários ao atual regime e a oposição vão tentar aprofundar aquela vaga sensação de que Lula, sob o manto da humildade, é na verdade um megalomaníaco que se sente predestinado: "Eu quero, eu posso, eu devo".

Já Planalto e marqueteiros e aliados vão carregar numa fórmula que tem sido infalível quando falta argumento objetivo para defender Lula: o da vitimização. O operário rejeitado pelas elites, o líder que é alvo de ex-aliados ressentidos.

O debate político, portanto, entra numa nova fase de embate, abstrato, difuso, permeado por sentimentos e emoções. No centro, as personalidades, ou, como diz o próprio Benjamin, "a complexidade da condição humana". Ganha, no grito, quem tem mais meios e mais marketing. Lula tem sido imbatível nisso.

Recomeço: Ao se recusar a reconhecer as eleições de hoje em Honduras, o Brasil aposta no recrudescimento da crise interna e testa forças com os EUA. Duplo erro.

Fim: com seu único governador na lama, o prefeito de São Paulo multiplicando o IPTU e as secretarias, e o partido atirando no seu candidato à Presidência, o DEM ameaça sumir do mapa.

elianec@uol.com.br

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