terça-feira, 24 de novembro de 2009



24 de novembro de 2009 | N° 16165
LUÍS AUGUSTO FISCHER


Monstrumentos

O assunto marcado no trocadilho do título, levantado pelo historiador Voltaire Schilling e debatido por várias figuras interessantes, ainda está vivo, me parece.

Para quem está por acaso aterrisando neste momento, cabe dizer, em súmula atropelada, que o Voltaire escreveu um texto destratando vários monumentos de arte pública fixados na geografia de Porto Alegre; a superfície do argumento denunciava o mau gosto das obras focadas, mas no fundo havia todo um questionamento sobre o papel das artes de nosso tempo, em especial as ditas artes visuais, que para Voltaire teriam por assim dizer se aproveitado de sua alegada condição de vanguarda – que ao mesmo tempo produz a arte e a justifica, como costuma ocorrer com toda vanguarda – para se imporem na cidade por sobre o gosto dos cidadãos cultos.

Entre todas as reações, das mais corporativas e desconfortáveis com a arguição pública (que simplesmente sugeriam ao Voltaire estudar) às mais sutis, me pareceu faltar outra dimensão, que foi tangenciada pelo artigo de sábado da Cláudia Laitano, quando comentou a conferência de Tom Wolfe – por um breve momento, eu paro e meço as palavras, e me dou conta de que, eba, estamos fazendo um debate escrito sobre matéria cultural! Parabéns para nós; não se assustem, crianças, debate pode existir.

A tal dimensão: está claro que o nosso tempo, este aqui, posterior à Guerra Fria, encerrada faz redondos 20 anos, já pode tomar distância bastante serena em relação ao fenômenos das vanguardas que caracterizaram o século 20, o curto século de Hobsbawn, que durou entre 1914, começo da I Guerra, à Derrubada do Muro de Berlim e ao Fim da URSS. Distância não apenas em relação às vanguardas estéticas, mas também às suas irmãs-gêmeas, as vanguardas políticas.

Que ainda haja gente fazendo gestos de vanguarda aqui e ali, na arte como na política, parece agora muito mais uma recordação do que uma proposta; estamos vendo o começo da campanha política do ano que vem e visitando os cenários da Bienal, portanto habilitados a dimensionar a fragilidade da saúde das vanguardas.

Não quer dizer que estamos no melhor dos mundos, pelo menos para meu gosto; mas sim quer dizer que o momento histórico é outro, posterior. Ontem mesmo saiu notícia dando conta de que foi eleito presidente do DCE da UFRGS um jovem ligado ao PP, partido herdeiro do PDS e da Arena, que nos dava nos nervos por seu inacreditável apoio à ditadura, à eleição indireta, à censura.

Consigo imaginar pouca coisa mais representativa da mudança que está, perdão pelo trocadilho, instalada. Mas não, calma, os “monstrumentos” não são necessariamente de direita, nem o rapaz esse será um monstro... Acabou o espaço, e nem consegui dizer bem o que queria.

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