sábado, 28 de novembro de 2009



29 de novembro de 2009 | N° 16170
DAVID COIMBRA


Cuidado com o Calvo Adúltero

Depois de oito anos de exitosa guerra contra os gauleses, Júlio César decidiu retornar a Roma. Pôs-se em marcha com seus legionários, que cantavam, rútilos de orgulho:

– Maridos, escondam suas mulheres: aí vem o Calvo Adúltero!

O Calvo Adúltero! Chamavam-no assim porque Júlio César era careca. E porque adorava assediar uma casada. Há homens com esse vício, acredite. Eu mesmo conheço um que é especialista em mulheres casadas. Ele sempre as aborda da mesma forma. É infalível. Ele chega e...

Mas estou tergiversando. Além disso, muitas esposas jovens e incautas, belas e frescas, esposinhas inocentes, enfim, poderiam ser facilmente seduzidas, se divulgasse aqui a fórmula do meu amigo. Abalaria matrimônios, dissolveria famílias, seria horrível. Melhor calar. Melhor voltar à senda reta do Calvo Adúltero.

Então: não era só por casadas que Júlio César tinha preferência. Aliás, ele não tinha exatamente preferências. Nem preconceitos. Diziam que JC era “marido de todas as mulheres e mulher de todos os homens”. Se bem que esses boatos podiam ser apenas aleivosias lançadas pelos senadores. Não duvido.

Muitos senadores odiavam Júlio César. Espalhavam, por exemplo, que ele era a mulherzinha do rei da Bitínia, uma província romana que ficava mais ou menos onde hoje é a Turquia. Não sei... Ainda que o rei da Bitínia fosse bonitão, não me parece que este fosse o perfil do conquistador Júlio César.

De qualquer maneira, o fato é que Júlio César gostava da coisa. Era um pândego. Os pândegos são pessoas mais tolerantes, acredite. São pessoas melhores. O próprio JC cultivava o hábito de perdoar seus mais acérrimos inimigos, algo incomum naqueles tempos de galés e crucificações. E que terminou não lhe sendo exatamente saudável: foram seus inimigos outrora perdoados que o assassinaram nos idos de março de 44 a.C. com 23 facadas traiçoeiras nas escadarias do Senado.

Maldito Senado.

Gosto de Júlio César como personagem histórico exatamente por esse seu traço de humanidade. Plutarco foi muito feliz ao relacioná-lo com Alexandre em seu “Vidas Comparadas”. Alexandre também era um ser humano complexo, às vezes contraditório, um apaixonado pela vida e pelas pessoas. Contava-se de Alexandre que ele “jamais rejeitava o amor”, e isso diz muito acerca do caráter de um homem.

Eram, Alexandre e César, homens que choravam e riam, se apaixonavam e sabiam-se objeto de paixão, ambos erravam e voltavam atrás ao constatar o erro, ou teimavam e seguiam em frente. Ou seja: homens.

Mas também heróis.

Por isso, concordei com Eric Cantona quando ele destacou Maradona como um personagem mais interessante do que Pelé, em entrevista publicada por ZH, sexta passada. Maradona é mesmo mais desregrado, mais engraçado, mais apaixonado e mais apaixonante. Mais humano, afinal. Pelé jogou mais, ganhou mais, fez mais gols. Foi melhor do que Maradona. Mas Maradona é muito mais divertido.

Palpite e seleção

Não vou deixar o campeonato terminar sem dar o meu palpite e a minha seleção. Palpite: o Flamengo tem os adversários mais tradicionais e, em teoria, os mais duros, Corinthians e Grêmio, mas, exatamente pelo desinteresse desses adversários, vencerá ambos. E será campeão.

A seleção?

Victor; Leonardo Moura, Miranda, Réver e Júlio César; Sandro, Hernanes, Petkovic e Diego Souza; Adriano e Fred.

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