quarta-feira, 25 de novembro de 2009



25 de novembro de 2009 | N° 16166
DIANA CORSO


Em nome do filho

Passei por um homem jovem e vi em seu braço forte, como o dos marinheiros de cartoon, uma tatuagem: era um nome de mulher, mas no outro braço havia um nome de homem. Não era um bissexual proclamando sua condição na pele, era um pai. Hoje em dia, numa celebração ao único amor certamente eterno, muitos tatuam o nome de seus filhos.

Tatuados ou não, filhos são indeléveis, seu nascimento é uma marca inesquecível. Mesmo que um pai ou uma mãe acabem não criando seus filhos, afastando-se deles, sentirão para sempre sua existência, da mesma forma como se sente um membro fantasma, um membro amputado que ainda dói. Por vezes até os não nascidos, gestações perdidas ou interrompidas, também deixam marcas e fazem aniversários.

Apesar disso, é difícil acreditar que os filhos recém-nascidos são uma realidade. Podemos ficar horas olhando a criatura adormecida, como se ela fosse um sonho do qual vamos acordar. Quando crescem, ainda parece incrível que “mamãe” e “papai” sejamos nós.

Em certos momentos da infância das minhas filhas esperava que um adulto de verdade aparecesse para assumir a função. Ocorre que as tarefas maternas e paternas sempre transcendem os que se ocupam delas, pois, mais do que práticos, são atos simbólicos, que assumem contornos míticos, ninguém está à altura.

Os pais que tatuam o nome dos seus filhos talvez saibam disso e querem a garantia da perenidade do vínculo no seu corpo. Tatuar-se o nome da pessoa amada é como impor uma certeza de fora para dentro, pode também ser uma declaração pública de pertença, como uma aliança que não sai do dedo. Os filhos sempre nos tatuam, nos possuem, queiramos ou não.

Dizer que os filhos são um amor que se impõe de fora para dentro não significa que falte em nós o júbilo de esperá-los, a felicidade de tê-los, apenas, inicialmente, o que amamos é a ideia de um filho que é sonhado. Já aquele nasce, é alguém que ainda teremos que trabalhar muito para conhecer e aprender a amar.

Seu modo de ser, de se parecer e os desafios que seu crescimento nos impõe, nos transformarão pelo resto da nossa parca existência: de fora para dentro.

Nunca estamos realmente preparados para os choros, as doenças, os conflitos com amigos, os namoros, as dificuldades na escola, os dilemas vocacionais, as separações das viagens, a saída de casa.

Vamos tocando e improvisando. Frente a tanta incerteza, não se estranha que se recorra à tatuagem para firmar um vínculo mutante, denso, pleno de ambivalências e mal-entendidos

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