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segunda-feira, 3 de novembro de 2008
RUY CASTRO
Mulher-repolho
RIO DE JANEIRO - Oscar Wilde dizia, com exagero, que a moda é uma forma tão intolerável de horror que tem de ser mudada todo ano. Mas, com tal rotatividade, é fatal que certos horrores sejam cíclicos.
Os costureiros apenas deixam passar uma ou duas gerações, para que a memória histórica se dissipe e essa ou aquela moda volte como novidade. Os babados, por exemplo.
Os babados vêm de longe, dos tempos de "A princesa de Clèves", de Madame de Staël, no século 17, ou até de antes. Desde o começo, já eram aquela cascata de rufos, folhos e franzidos de renda ou de seda, aplicada à gola do vestido ou da camisa, descendo em camadas pelo peito da pessoa, às vezes espalhando-se pelos punhos e, nos casos mais graves, combinando com um lenço. O nome técnico é jabô.
Mas o efeito sempre foi transformar homens e mulheres em repolhos.
Vide a Revolução Francesa. O próprio Robespierre passava anos sem tirar seu jabô do pescoço, nem mesmo para lavar. Mas tudo acaba. No século 19, os homens trocaram o jabô pela gravata e ele ficou exclusivo das mulheres, até que elas também o abandonaram.
Depois de décadas no limbo, os babados voltaram, entre 1965 e 1970, na "swinging London" -o breve período em que Londres trocou o fog, o pigarro e o guarda-chuva por sexo, drogas e rock'n'roll -, e convenceram os homens do mundo inteiro a usá-los. (Menos no Brasil, onde o único a aderir foi o costureiro Denner.)
Pois eis que, agora, os babados estão de volta, pelo menos entre as mulheres.
E não se limitam ao peito. Ameaçam tomar o vestido inteiro, transformando a mulher numa instalação gótica foragida de um hortifrúti. O horror está às portas e, desta vez, só uma coisa pode contê-lo: a crise global. Com a falta de crédito, não haverá dinheiro para tantos fru-frus.
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